Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
De mulheres e de homens
A modernização das relações sociais e políticas e o desenvolvimento da Democracia nos revelam traços do que somos, como agimos e nos relacionamos. Somos uma sociedade de Conservadores, e isso não é uma traição à História Humana. O Conservadorismo, como corrente do pensamento filosófico-político, defende a manutenção de estruturas sociais [instituições] como orientação às formas e teor das relações sociais. Tradições religiosas, familiares, comunitárias e políticas são reivindicadas para preservação de valores e estabilidades experimentadas. As regularidades das tradições provocam segurança emocional nas interações entre indivíduos e na formação de grupos sociais. Conservadorismo implica em manter o que existe como modelo de manutenção da vida cotidiana. Em geral, se traduz como resistência às mudanças e enclausura as transformações sociais. Vira ortodoxia: um campo de verdade e, por vezes, intolerância.
Este é o caso das análises sobre as formas do exercício de poder. Para quem o ocupa e o exerce haverá em sua corrente sanguínea a vontade de ortodoxia. E as formas de poder atravessam todas os modelos de existência. A Postura Conservadora se revela em Racismos, Machismos, Preconceitos, Patriarcalismos. E sua “naturalização” é o componente mais relevante de manutenção. “É assim mesmo, porque é assim”, diria o “aprisionado” nos modelos sociais. Por vezes mudam-se as caras, mas os comportamentos e posturas são as mesmas.
Numa sociedade feita de homens e mulheres, a naturalização das formas de poder nas relações de gênero é uma maneira de não mudar. Mulheres e homens destacam comportamentos e atitudes machistas, embora possam fazer desenhos sociais de uma sociedade “igualitária”. O que se fala são desejos de ser; o que se faz demonstram as orientações que antecedem o que se é.
A despeito de homens e mulheres serem diferentes enquanto formação biológica, isto não pode acarretar desigualdades sociais e políticas. É o que desejamos e celebramos em 08 de março de todos os nossos anos. Como há homens e mulheres machistas, há homens e mulheres que lutam pela liberdade e busca de igualdade de gênero. E é justamente este aspecto a ser festejado: democracia [liberdade, igualdade, fraternidade] nas relações de gênero.
Para as mulheres a História retratou sistemas de domínio político e social desde que começamos a contar a História Humana. Da Idade Média ainda trazemos lastros de nossas condutas nas relações de gênero, sem sentir qualquer desconforto. Ou porque desconhecemos seus significados e apenas agimos como se assim fosse para todo o sempre [alienados] ou porque damos sentidos machistas àquelas relações de gênero acolchoados em tradições que se legitimam por si mesmas.
As transformações nas relações de gênero são conquistas sociais e políticas de homens e mulheres. Democracia não tem gênero! Democratas abraçam lutas: salários iguais para funções iguais, participação igual em processos políticos e eleitorais, direito sobre o corpo, liberdade social e sexual, proteção legal específica etc. Homens e Mulheres que lutam por Democracia de Gênero merecem os cumprimentos e serem representados nos avanços sociais de gênero.
Há muito a ser feito e temos o estímulo dos alimentos colhidos na História recente. Nossa fome por Democracia de Gênero é enorme. Para transformar é preciso conhecer, especialmente nossa trajetória política. Uma transformação pode ser pedagógica. Não é suficiente ser aluno que estuda para a prova e “tirar” boas notas. É fundamental estudar para conhecer e mudar nossa compressão sobre a História e transformar nossa vida que teremos para viver!