Cada um de nós, em lugares discretos ou amplos salões, já projetou a imagem que tem de si mesmo. Em geral, são cinematografias geradas por poses determinadas de como gostaria de ser visto e muito menos pela construção que os outros têm de cada um de nós. Como juiz de si mesmo, as dificuldades são deslocadas, os erros cometidos são esquecidos ou remetidos a causas estranhas, e as inconformidades da vida são desmontadas em nome de um espelho que somente pode ser visto na imaginação do córtex visual do cérebro. Ali, com olhos fechados ao que ocorre ao redor, a autoimagem distorcida impulsiona cor, distância., forma, volume, profundidade, movimento. Com os insumos entregues e a montagem processada, a representação de mim por mim mesmo passa a ser a representação requerida.
Autoimagem também pode gerar autoconhecimento realista e é expressa intensamente em modelos de compreensão e interpretação sobre os “perigos” de eu ser eu mesmo: deficiências, descuidos, erros, deslizes etc. são instrumentos para se autoidentificar para o passo seguinte da vida – amadurecimento. Uma combinação entre espelho retrovisor e para-brisas: o que ficou para trás não é um passado esgotado e o que se percebe logo ali em frente é uma parte do trajeto a ser cumprido. O presente é gerado pelo passado resistente e pelo futuro esperado.
Para um processo eleitoral a autoimagem é um dos pilares mais sensíveis aos tremores políticos. Os abalos sísmicos serão percebidos na coluna que sustenta o ser sociopolítico. Se a coluna de sustentação não é segura e incapaz de absorver impactos sísmicos, qualquer fachada vira entulho. A proteção da autoimagem está na trajetória edificada até então, nas observações morais da vida pública, na forma de ousar diante de obstáculos, nos apelos éticos da atividade privada, nos construtos dos deleites das relações de intimidade...
A autoimagem tende a ser desmascarada não pelo que o autor de si mesmo poderá defender, mas pelo que os outros todos são capazes de imputar ao que se é. Os tremores são capazes de revelar as fraquezas da construção da vida. A despeito das redes sociais [um mundo superfantástico e campo dos desejos de criação de histórias para se ‘viver’ tudo o que não se pode ser], ela mesma serve como tremulação. É na vida cotidiana, onde se cravam os passos de todos os dias, que a inevitável avaliação externa é capaz de apontar que a vida tem força interior com histórias que se materializam fora de nós; como uma gravidez que, para além da formação física de um novo ser, cresce recheada de promessas.
Quando alguém decide que se pretende concorrer a cargos públicos eletivos, amplos como uma eleição para vereador ou prefeito, ou restrito como numa eleição corporativa, é necessário observar, por terceiros especializados, a distância entre a autoimagem e a imagem pública. Neste contraste, sem apuração adequada, o primeiro a falar é o outro [muitos outros] e o último a sonar é o pretendente. Evita-se o constrangimento de ser um adolescente que se traja em roupas de adulto, sempre grande demais!
Para isso é que servem as pesquisas. Entender, com rigor teórico-metodológico e técnico-estatístico, as dimensões segundo as quais uma personalidade pública [imagem e identidade coletiva] “compete” com a autoimagem desejada pelo ser que opera aquela mesma vida. Pesquisa é uma ferramenta de gestão para tomada de decisões seguras e não números para cutucar curiosidades pessoais e desejos febris. A “sua” vida é, também e necessariamente, social.
A distância entre como você gostaria de ser visto e como você é percebido é a primeira fase do amadurecimento pessoal e a chance de se entender frente ao conjunto de múltiplas circunstâncias que nos rodeiam. Não se faz isso sozinho. Para se entender você precisa “sair de si”.