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Casos e ocasos

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Rosan da Rocha é catarinense, manezinho, deísta, advogado, professor e promotor de Justiça aposentado. Sem preconceitos, é amante da natureza e segue aprendendo e conhecendo melhor o ser humano

Um ano de governo, muitas promessas e uma cidade quase à deriva


O ano de 2025 ficará registrado na história de Balneário Camboriú. Pela primeira vez, uma mulher foi eleita para ocupar o cargo mais cobiçado da política local: o de prefeita municipal. Um fato que deveria ser motivo de celebração e esperança acabou, no entanto, transformando-se em frustração para grande parte da população.

Desde o início do mandato, o que se observou foi a distribuição de cargos a aliados políticos da campanha, com a nomeação ou indicação de pessoas sem a qualificação técnica necessária para funções estratégicas da administração pública. O resultado dessa prática logo se fez sentir, especialmente em áreas sensíveis e essenciais.

A Secretaria de Saúde é, sem dúvida, o caso mais preocupante. Primeiro, pela escolha de uma Gestora indicada politicamente, sem capacidade técnica para comandar uma estrutura tão complexa. Segundo, pela insistência da prefeita em mantê-la no cargo, mesmo diante do evidente desmonte de um sistema público de saúde que levou anos para ser estruturado e que, até então, funcionava de forma satisfatória. Hoje, profissionais trabalham sob medo e insegurança, sem saber se conseguirão cumprir suas funções diante da desorganização administrativa, da falta de materiais e, sobretudo, de um ambiente marcado por perseguições e assédio moral, com ameaças constantes de processos administrativos.

O Hospital Municipal Ruth Cardoso simboliza de forma trágica esse cenário. Por irresponsabilidade e incompetência administrativa, o município abriu mão de um patrimônio valioso, transferindo-o integralmente ...

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Desde o início do mandato, o que se observou foi a distribuição de cargos a aliados políticos da campanha, com a nomeação ou indicação de pessoas sem a qualificação técnica necessária para funções estratégicas da administração pública. O resultado dessa prática logo se fez sentir, especialmente em áreas sensíveis e essenciais.

A Secretaria de Saúde é, sem dúvida, o caso mais preocupante. Primeiro, pela escolha de uma Gestora indicada politicamente, sem capacidade técnica para comandar uma estrutura tão complexa. Segundo, pela insistência da prefeita em mantê-la no cargo, mesmo diante do evidente desmonte de um sistema público de saúde que levou anos para ser estruturado e que, até então, funcionava de forma satisfatória. Hoje, profissionais trabalham sob medo e insegurança, sem saber se conseguirão cumprir suas funções diante da desorganização administrativa, da falta de materiais e, sobretudo, de um ambiente marcado por perseguições e assédio moral, com ameaças constantes de processos administrativos.

O Hospital Municipal Ruth Cardoso simboliza de forma trágica esse cenário. Por irresponsabilidade e incompetência administrativa, o município abriu mão de um patrimônio valioso, transferindo-o integralmente ao Estado sem exigir garantias mínimas de um atendimento eficiente e eficaz. A população foi induzida a acreditar na “estadualização” dos serviços, quando, na prática, o governo estadual apenas terceirizou a gestão. O resultado foi previsível: uma avalanche de reclamações de funcionários — muitos demitidos sem justificativa, outros humilhados e desvalorizados — e de pacientes que não recebem o atendimento digno que lhes foi prometido. Em resumo, a situação piorou.

Na Segurança Pública, o desempenho também ficou aquém das expectativas. O aumento significativo das ocorrências, especialmente na região central da cidade, preocupa moradores e comerciantes. O primeiro secretário deixou o cargo após um episódio lamentável envolvendo uma moradora, e a pasta permaneceu acéfala por longo período. Posteriormente, deixou como tampão o Secretário Adjunto, também militar da reserva, até chegar a outro militar reformado, de larga experiência, dizem eles, na expectativa de que, como ex-comandante da Polícia Militar, traga resultados positivos. 

É preciso lembrar que a Guarda Municipal nasceu com vocação comunitária: próxima dos moradores, orientadora dos turistas e promotora da cidadania. Hoje, o que se vê é uma guarda armada, ostensiva e, muitas vezes, truculenta, restrita ao interior das viaturas, aguardando ocorrências para agir. Espera-se que o novo comando resgate o verdadeiro papel da corporação, evitando que ela se transforme em mera extensão da Polícia Militar.

Na Educação, o cenário não é menos desalentador. Professores e pais de alunos relatam cobranças excessivas, insegurança, desvalorização e humilhações. Os uniformes escolares foram entregues com atraso; o pagamento integral do piso salarial do magistério foi parcelado, frustrando expectativas; durante todo o ano, não houve capacitação adequada para os docentes; e muitos gestores escolares não foram escolhidos por meio de processo democrático.

Somam-se a isso os profissionais readaptados, deslocados para outras secretarias e exercendo funções distintas daquelas para as quais prestaram concurso. A secretária da pasta pediu exoneração, sem que os motivos fossem claramente esclarecidos, sendo substituída pelo chefe de gabinete da prefeita, que passou a acumular funções, apesar de não possuir formação na área educacional. Uma situação lamentável. Para completar, uma licitação milionária para reformas em escolas precisou ser suspensa após o Ministério Público abrir investigação por indícios claros de irregularidades.

Essas três áreas — Saúde, Segurança e Educação — são pilares de qualquer governo e deveriam estar plenamente estruturadas e funcionando em benefício da sociedade. Não é o que ocorre. As demais secretarias, em muitos casos, parecem existir apenas como fachadas e cabides de emprego.

A Secretaria de Planejamento merece menção especial. Até agora, sua atuação concentrou-se quase exclusivamente na revisão do Plano Diretor, processo marcado por falhas técnicas e favorecimento explícito ao setor da construção civil. Nada surpreendente, considerando que o secretário possui filhos proprietários de construtoras, sendo um deles representante do sindicato da categoria no próprio processo. O Ministério Público investiga o caso, e a expectativa é que coloque ordem onde hoje reina o conflito de interesses.

Não por acaso, este é o governo que, em seu primeiro ano de mandato, acumula o maior número de reclamações junto ao Ministério Público local. Ainda assim, nas redes sociais, a prefeita projeta a imagem de uma gestão eficiente, dinâmica e sem problemas. Quando confrontada com falhas, ela e seu chefe de gabinete recorrem ao discurso de culpar a administração anterior, embora afirmem governar “olhando para frente” — uma contradição evidente.

Para maquiar a má gestão, foram gastos recursos elevados com eventos festivos e intervenções superficiais, como uma reforma cosmética no prédio da prefeitura, anunciada como grande transformação. Enquanto isso, na praia os problemas básicos permanecem: chuveiros e banheiros públicos deficitários, obras de drenagem inacabadas, quiosques de fiscalização abandonados ou repassados irregularmente, falhas no transporte público e ônibus de turismo circulando em áreas proibidas. O verão chegou, e o prenúncio é de uma temporada difícil.

Resta torcer para que a teimosia dê lugar à reflexão. Que a prefeita saiba ouvir quem não busca cargos nem vantagens econômicas e tenha coragem de romper com os bajuladores de plantão. Ainda há tempo de iniciar 2026 com uma guinada à altura da mulher independente e combativa que se apresentou durante a campanha eleitoral.

Ou será que o processo de cassação que tramita na Justiça Eleitoral, já em fase avançada e com farta prova documental, tem sido um freio invisível à sua atuação? Difícil saber. O tempo — e os fatos — dirão.


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