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Obrigado, Marina
O Brasil deve a Marina Silva a descida de Lula do pedestal da arrogância, das favas contadas, da ilusão da invencibilidade calcada numa disputa injusta com uma candidata fabricada ao longo de dois anos de desprezo presidencial pelas leis do país. Dois longos anos de promoção da Mãe do PAC pelo Filho do Brasil não lhe asseguraram a vitória em primeiro turno, crucial, porque no debate a dois a falta de substância de Dilma Roussef provavelmente se evidenciará.
Marina Silva, sem recursos e com meros três por cento de intenções de votos, lá atrás, terminou a disputa com 20%, logo, fez e mostrou que pode muito mais que o já quase ex-presidente, que, muito provavelmente, governaria sob o manto de Dilma, à moda dos Kirchner, na Argentina, ou da dupla Putin-Medvedev, na Rússia.
Lula deve estar espumando de raiva, não só pelas favas (mal) contadas da vitória em primeiro turno, mas com a possibilidade do fim - ou interrupção - de seu projeto de poder.
Marina Silva, se não livrou o Brasil da consumação da ameaça totalitária que se antevê com a vitória de Lula na pele de cordeiro de Dilma, ao menos proporcionou ao eleitorado a chance de lutar contra a sua instalação.
Não pode ser outra a intenção de um presidente que jamais observou a liturgia do cargo, que fez troça do Judiciário, afagou cabeças inafagáveis por quem anda em compasso com a coerência.
Não que José Serra seja santo, também fez lá suas alianças espúrias, patrocinou com entusiasmo o esbulho dos precatórios, esbanjou dinheiro com propaganda e também reclamou da mídia, mas não dia sim, outro também. No mais, administrou o estado de São Paulo de maneira razoável.
Não houve, contudo, nenhuma grande renovação, o que viria com a eleição de Marina, ou com sua ida ao segundo turno.
Na câmara e no senado, reeleitos Paulo Maluf, Romero Jucá, Paulinho da Força, Valdemar Costa Neto, Edison Lobão, Paulo Paim, Arlindo Chinaglia, nada autoriza bons augúrios para a nova legislatura naquelas casas. A menos que se possa achar alguma graça nas pérolas que o campeão de sufrágios Tiririca haverá de proferir em seus discursos...
A família Sarney, mais uma vez, preserva seu feudo no dilacerado Maranhão.
Confirmou-se, mais uma vez, o óbvio mantra: eleições se decidem nas urnas.
Para o bem ou para o mal, as urnas falaram, e ainda terão o que dizer em 31 de outubro. A palavra definitiva: a continuidade, quem sabe a perpetuação, ou um ponto final no Lulismo.
Por tudo isso, e olhe que não é pouco, convém aos que prezam a democracia agradecer a Marina Silva.
Luiz Leitão é jornalista
luizmleitao@gmail.com
SRTE 57952