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Um Ciro pela culatra
Há algum tempo que venho pensando: onde estão os objetivos da política brasileira? Tenho a sensação de que continuam existindo os dois campos: ideologia teórica e ideologia prática. Os indivíduos têm suas afinidades e possuem seus trabalhos ao mesmo tempo. E quando tratamos da política como profissão, o que presenciamos é um jogo em que se ganha e se perde conforme a ocasião. Portanto, as eleições deste ano começaram a mostrar os seus primeiros derrotados.
Após o seu impeachment partidário, Ciro Gomes (PSB) presencia um dado em que 20 diretórios preferiram Lula e não ele. Seria o caso de pensar o que os filiados do PSB querem com o seu partido? Afinal, se for para ter um partido e na hora de trabalhar acovardar e migrar para outra sigla, então seria melhor filiar-se de vez no PT ou no PSDB. Não equivocando-me, quem sabe seria como o técnico Pep Guardiola não escalasse o argentino Messi para um jogo da Champions. Entretanto, além da vocação de um partido lançar candidatos em campanha, eles podem também fazer coligações.
Por conseguinte, quem é o verdadeiro responsável por este efeito cirista? Olhando pelo incansável Lula, que deglute sua pré-candidata aos seus companheiros, podemos pensar num ato maquiavélico do lulismo. Afinal, não são apenas minutos na TV, como também coligações em estados e votos para a presidenta que não é do PV. Por mais que o tucano vá a 42%, segundo o DataFolha, estamos apenas na pré-campanha. Contudo, passar a mão na cabeça de Ciro Gomes agora é tolice. Pois, caso o deputado Ciro não saiba, que aprenda; a política é uma ciência de governar, ou seja, ficar parado e esperando vir tudo pronto do céu não existe.
Enquanto os sentimentos de mágoa e desabafos do ex-pré-candidato são expressos na mídia, este momento eleitoral será marcado com frases como: ao rei tudo, menos a honra; José Serra é mais preparado; Lula está navegando na maionese e Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Agora, em que patamar está a credibilidade do deputado Ciro? E ao somar suas declarações das eleições de 2002, encontraremos um Ciro Barrichello que ainda sonha com a vitória e os erros insistem em acompanhá-lo.
Contudo, houve a preocupação de um desfecho glorioso. Embora faltou, quem sabe, uma festinha semelhante de aniversário ou um helicóptero para assemelhar à saída de Collor os motivos são claramente distintos da presidência. No fim das contas, Ciro termina sem nada. Sem o governo de São Paulo, sem o eleitorado cearense e sem a presidência. Para quem um dia foi da base de Lula e sonhava ser o candidato do governo, cabe agora esperar por um novo ministério. E futuramente ser candidato à presidência.
Depreendo com uma pergunta: E como fica o eleitorado de Ciro? Os que sobrevivem na campanha presidencial vão brigar muito pela herança do falecido. Basta saber o que vai estar escrito no testamento: Serra (PSDB), Dilma (PT) ou Marina (PV)? Doravante, os órfãos brevemente esquecerão que um dia responderam votar em Ciro Gomes nas pesquisas de intenção de votos e as eleições continuarão dando os seus tiros.