Iguarias
Loja vende até 10 toneladas de farinha do norte por mês
Sucesso da empresa que vende produtos amazônicos revela fortalecimento do setor de produtos regionais
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Se alguém duvida que Itajaí está se tornando multicultural é porque não prestou atenção aos sotaques, cardápios regionais e fachadas dos comércios, que não se limitam mais a pequenos estabelecimentos na periferia. Quem furou a bolha foi o casal paraense Carlos Silva e Silvia Cristina, que abriu, a loja Iguarias do Norte, no centro, para ser uma vitrine do que o Pará tem de melhor: a culinária, cultura e o jeito nortista de encantar a clientela fiel.
E que fidelidade! Em menos de cinco anos vendendo farinha, açaí, tucupi e jambu, a empresa cresceu tanto que os produtos estão aquecendo o estômago e o coração até de nortistas que vivem na Europa. “Paraense não vive sem farinha. Eu até tentei comer a farinha daqui, mas não me adaptei. E foi o que senti quando ofereci aos imigrantes. A aceitação foi imediata”, conta Carlos, metalúrgico por profissão, que ficou na pior por causa da crise de 2015.
Ele foi soldador por 23 anos e viajou boa parte do Brasil trabalhando em empresas que prestavam serviço para a Petrobras, aproveitando o boom do setor petroleiro alavancado pelo pré-sal. A família estava em São José dos Campos em 2013 quando pintou a oportunidade de vir para Itajaí graças aos estaleiros que abriram na região. Trabalho não faltou, mas uma coisa ele sabia: não queria terminar a vida como soldador, apesar do salário de R$ 7 mil.
Primeiro, ele abriu uma escola para soldador, mas logo no ano seguinte muitos estaleiros fecharam as portas e ele amargou o prejuízo. Sem ter como pagar o aluguel e com uma dívida gigante no cartão de crédito, o jeito foi agarrar a primeira oportunidade, na época, revendendo perfumes. A mulher arranjou emprego num atacadão e, durante dois anos, a missão foi limpar o nome e pagar a dívida que chegou a R$ 100 mil.
A clientela de perfumes de Carlos eram os colegas de trabalho da esposa, que eram do Norte e Nordeste. Aí veio a ideia de oferecer farinha e açaí. No começo, ele pagava para alguém atravessar o país de ônibus, o que levava quatro dias e 3,5 mil km. Como só tinham geladeira, a capacidade era de 15kg de açaí congelado, além dos 30 kg de farinha. Quando os pedidos começaram a aumentar mais do que a capacidade de entrega, Carlos trocou um kit de perfumes por um freezer usado e alugou uma casa maior, fazendo da garagem a distribuidora.
Cresceu na pandemia
“Hoje vendemos cerca de 10 toneladas de farinha por mês, agora via transportadora. A demanda é tanta que os agricultores do Pará não dão mais conta e precisamos comprar de outros estados. Além de expandir o negócio, geramos renda para o produtor, impostos para os dois estados e a alegria dos conterrâneos”, comemora.
E ao contrário do que ocorreu com vários segmentos, a empresa só cresceu durante a pandemia. Após a inauguração da loja no centro de Itajaí, veio a necessidade de abrir espaços no São Vicente, São João e Navegantes para os clientes degustarem caldeirada, vatapá e maniçoba, fazendo quem está longe se sentir um pouco mais perto do norte.