Muitos falam, ingenuamente, que a Filosofia é um mundo de inspirações ilusórias, sem conexão com a realidade. Como um fantasma que habita a cabeça de alguns insanos, se refere a “respiração rarefeita”, sem preocupação com os fatos, distante do chão que pisa. Há os agônicos que dilatam a Filosofia para a ideia sem resultados práticos, sem objetividade, sem chegar logo ao que se deseja. Aqui Filosofia seria algo sempre sem destino certo, sem resultado lógico, sem alcance de metas: um devaneio pueril.
Vivemos orientados por coisas físicas que exigem de nós operações de convivência: mares, rios, chuvas, sol, chão, pedra, comida; carros, ruas, sinais de trânsito, lugares; livros, cadernos, lápis, borracha [e tudo o que você consegue elencar]. Todas essas coisas podem têm peso [um quilo] e tamanho [um metro]. E, pela mesma verdade, vivemos orientados por fenômenos que não podem ser tomados pelas mãos, não têm peso e nem tamanho: felicidade, política, beleza, liberdade, amor, caráter, cuidado, pensamento, desejos, moral, leis.
A Sociedade é um desses fenômenos. Ela existe por si só, e você não pode não querer. A Sociedade se impõe a você e não há como escapar de suas garras e de seus contornos. Se você não quiser viver a sociedade e suas regras, ainda assim será considerado por ela: você terá como carimbo a condição de um ser errante, uma pessoa vagabunda [aquela que vaga sem destino], um andarilho sem moral. Abrir mão das regras da sociedade garante a existência da Sociedade.
A Filosofia é um fenômeno de pensamento, abstrato, que possibilita organizar e planejar e agir sobre o que é concreto. Se você sabe o que fazer [pensamento, abstração], então é só fazer [atividade concreta]. As leis da sociedade são parte deste jogo. É por isso que as nações têm “Constituição” [aquilo que a constitui, que a organiza, que permite sua identidade – que tipo de sociedade é?]. Inspirada na compreensão na Organização do Mundo Natural e suas Leis, a Sociedade requer um conjunto de funcionalidades regulares que lhe garantam sobrevivência.
As Leis devem estar acima dos homens e mulheres, inclusive daqueles que a processam [advogados, juízes] em tribunais [assentos de julgamento, elevação ou aterro], sem dar por isso os interesses personalíssimos. Estando acima dos homens e mulheres, e somente nessa condição, as Leis podem organizar a Sociedade, disparar suas relações, promover a caminhada. Estando acima das vontades do indivíduo, é com a obediência às Leis que cada um não se submete à vontade de outra pessoa, como fora na escravidão. E, assim, se pode ser livre!
Mas se as Leis estão mal organizadas, se não conseguem vislumbrar Identidade a uma Nação, se não pode orientar seus membros, se está, de tempos em tempos, a ser revisada e refeita, propriamente não há Lei. O que se tem são circunstâncias assumidas pelas mãos dos homens e mulheres, que, pela sua vontade, vão colocando pedaços de regras num livro, numa caixa, num balde qualquer como roupas sujas a serem lavadas.
Num fluxo sem orientação de Leis, a Sociedade vira território dominado por gangues, guerrilhas que fazem suas próprias “Leis” num retrato medieval de escravidão e castigo. Se lei é vontade de poucos, pouco será de Sociedade. Resta-nos a moralidade, confiar um no outro, mas isso também está em desuso pelo egoísmo original humano ou por pessoas pouco vibrantes às fontes de bom caráter! Aos legisladores, um pouco mais de Sociedade!