O rio nunca é o mesmo no dia seguinte porque a água não é a mesma, apesar de todas as semelhanças de trajeto, forma, volume, movimento. Assim também em nossa vida. As experiências se acumulam e vão nos transformando em seres cuja aparência sugere ser o mesma vida, mas não mais a mesma pessoa. Mudar é parte da condição de existência.
Para facilitar nossa compreensão dessa inevitável natureza existencial costumamos pensar em ciclos temporais, períodos mais longos e significativos aos nossos limites de interpretação. As fases de desenvolvimento humano, logo no início da vida, são vinculadas ao desenvolvimento do cérebro e suas funções. Como seres muito dependentes nossa infância é marcada por um conjunto de cuidados. A cada período a autonomia de ser vai se mostrando.
Sociabilidade e docilidade social são imperativos para a vida coletiva. Gesticular, engatinhar, andar; desejar, aprender a viver em relação aos outros [técnicas sociais e empatias], conhecer novos alimentos e experiências sobre o mundo; aprender a ler e a escrever, apreender as regras do convívio social [respeito, por exemplo] são transformações que condicionam o humano a se estabelecer como ser social.
Os ciclos seguintes estão vinculados ao mundo da produtividade e de ampliação dos vínculos para fora da proteção familiar. É preciso estar preparado e solidamente bem formado para entrar nessa caminhada. Depois de certa idade as pessoas vivem mais fora de casa, longe do controle familiar, do que reclusas. “É hora de trabalhar, de se fazer por si!”
As relações de poder e dominação mudam. As regras do trabalho organizam a vida social. As condutas espirituais e religiosas indicam o arsenal moral que deve ser seguido. As formações educacionais imputam o campo necessário para o conhecimento e o aprendizado institucional. Quem não souber manipular números não poderá viver bem e terá dificuldades de operar relações com o tempo [antes e depois e agora, por exemplo].
Vivemos tão intensamente cada hora de nossa vida, embutidos como armários em uma parede, que precisamos delegar a terceiros um conjunto imenso de decisões que tratarão de nossos passos, nossas caminhadas e nossos ciclos de vida. O voto é uma delegação a terceiros para gerir nossa vida, tal qual a espiritualidade, a educação, o trabalho. Quem tem a responsabilidade de decidir ou influenciar nossos ciclos de vida social não poderá errar. E não poderá ser anistiado.
A anistia eleitoral, feita por deputados e senadores, é uma lei feita por eles, pagos por nós, para decidir sobre ciclos político-eleitorais ao qual somos obrigados a cumprir, e que, por erros deles, será decidido por eles que não poderão [eles] serem punidos. Faz de conta que não ocorreu! Eles que devem nos representar, pagos por nós, como mágicos, desejam apagar ciclos da vida já ocorridos. Não há anistia no trabalho, na religião, na escola quando os tropeços são morais!