Colunas


Decisão Suprema


A decisão do Supremo Tribunal Federal, reconhecendo a legitimidade das uniões homoafetivas, já de si extremamente importante, sobressai pela solidez de seu caráter unânime.

Se, como dizem alguns juristas, o STF não deve adentrar o terreno do ativismo judiciário, convém lembrar que, no caso, a Corte apenas atua em face da omissão do Legislativo, entravado por bancadas religiosas.

Muda muita coisa na prática, sim, esse reconhecimento, pois uniformiza as decisões judiciais em todo o país e garante o direito de pensão, por exemplo; facilita a adoção de crianças por casais homossexuais.

Mas o efeito mais promissor dessa decisão que merece o epíteto contido no jogo de palavras do título deste artigo é a possibilidade de, com isso, o Congresso Nacional, afinal, se afastar um pouco de seus interesses menores e imediatos e votar um projeto de lei tornando crime inafiançável a homofobia, pois é perfeitamente factível traçar uma analogia entre o racismo, a discriminação de gênero, a violência doméstica, que redundou na Lei Maria da Penha – que não erradicou a prática, mas decerto a reduziu – e a própria intolerância religiosa – da qual são também vítimas!! -, que as Igrejas, não só a católica, carregam em seu âmago, embora mal e mal consigam disfarçá-la.

São todas elas práticas de delitos de intolerância, e uma lei tornando inafiançáveis, pelo menos, se não as manifestações, as agressões homofóbicas - que se vêm tornando cada vez mais frequentes -, é mais do que premente. Poder-se e dever-se-ia incluir num eventual texto legal desse tipo as discriminações contra nordestinos, perfeitamente classificáveis como racismo, porquanto se regionalismo não é “raça”, há embutido nele um obviamente delirante sentido de superioridade, porque o tipo físico clássico do nordestino e de outras regiões do Brasil é mesmo diferente daquela conformação mais caucasiana dos povos do sul e sudeste, em geral.

Ainda que não se consiga convencer nossos “representantes” no Congresso da oportunidade de tal propositura, é razoável deduzir que a “Decisão Suprema” venha a influir na criação de uma jurisprudência que estabeleça como crime – variável em função de sua gravidade, por óbvio – todo tipo de discriminação, como a diferença salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função ou similar, os direitos das empregadas domésticas – essa classe singular de trabalhadoras sem Fundo de Garantia nem direito a multa por demissão imotivada -, que não têm sindicato, talvez por não haver, em tese, a possibilidade de se criar seu antagonista, o patronal ou, quem sabe, por desinteresse (leia-se “interesses”) em encarecer um serviço do qual se beneficia boa parte da classe média, qual integram, é claro, os legisladores.

Assim como a sociedade respeita a inexplicável proibição de ordenação de mulheres na igreja católica, cabe pleitear a contrapartida: que as autoridades eclesiásticas ponham freios nas manifestações de membros de grupos de religiosos que se declaram contra aquilo que faz parte na natureza humana e a ninguém agride – com a desonrosa exceção dos dogmáticos. Não porque não possam se expressar, mas porque o fazendo acabam atiçando cães selvagens como os neonazistas e que tais.

* jornalista


Conteúdo Patrocinado


Comentários:

Deixe um comentário:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

ENQUETE

Secretaria de Educação de Itajaí está certa em “barrar” o Halloween nas escolas municipais?



Hoje nas bancas

Confira a capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯


Especiais

Entre a polícia e o tráfico, moradoras do Complexo da Penha ficam com os escombros

RIO DE JANEIRO

Entre a polícia e o tráfico, moradoras do Complexo da Penha ficam com os escombros

Inteligência, participação social e coordenação: como combater o crime sem chacinas

CHEGA DE CHACINAS!

Inteligência, participação social e coordenação: como combater o crime sem chacinas

Nascidos no caos climático

NOVA GERAÇÃO

Nascidos no caos climático

Afinal, quanto dinheiro o Brasil recebeu de financiamento climático?

CLIMA

Afinal, quanto dinheiro o Brasil recebeu de financiamento climático?

Boulos substitui Macêdo com desafio de levar temas sociais para Secretaria da Presidência

ESCALA 6X1

Boulos substitui Macêdo com desafio de levar temas sociais para Secretaria da Presidência



Colunistas

Rubens com a faca e o queijo na mão

JotaCê

Rubens com a faca e o queijo na mão

Novembro Azul

Charge do Dia

Novembro Azul

Queridonas

Jackie Rosa

Queridonas

Amanhecer

Clique diário

Amanhecer

Criador e criatura

Via Streaming

Criador e criatura




Blogs

Zé Carioca

Blog do JC

Zé Carioca



Podcasts

Ventos podem chegar a 80 km/h na região

Ventos podem chegar a 80 km/h na região

Publicado 07/11/2025 16:29





Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.