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Heróis


A revista Veja, em sua edição 2290, conta a história do ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão. Alçado à posição de defensor da ética nacional, o “menino pobre que mudou o Brasil”, como a ele se refere a revista, mereceu reportagem e foto na capa, por ter devolvido aos brasileiros a esperança de que a Justiça possa fazer o seu papel, punindo os bandidos, sejam eles quem forem.

Transformado em herói nacional, o Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) cumpre com seu dever. Ao revelar seu voto, de forma equilibrada e coerente, honra seu cargo, mostra a que veio, merece seu salário - atitude inusitada, hoje em dia, daí a admiração e o reconhecimento de que desfruta. Como ele, outros ministros, pela exposição corajosa, subitamente se viram transformados em ídolos, atraindo atenção em todos os lugares onde aparecem. Mas, como lembrou o Ministro Marco Aurélio, também do Supremo Tribunal Federal: “somos apenas servidores”. Acontece que, neste país, servidores costumam se achar poderosos, até mesmo atrás de um balcão, com um carimbo na mão. A condição de ter alguém dependente da sua atenção sobe à cabeça e ocasiona desprezo pelo contribuinte, demonstrado na morosidade do atendimento e no pouco caso com as necessidades do outro, porque isso aumenta a sensação de poder do pobre coitado, que usufrui o seu momento de glória, quando é imprescindível o seu carimbo ou assinatura. Assim, é natural o encantamento, quando o servidor faz o seu serviço, sem se julgar poderoso, porque investido do poder que o cargo público lhe proporciona.

Estamos carentes de heróis. Desmotivados, acovardados, estamos longe dos “mocinhos” dos filmes de antigamente, capazes de matar e morrer em defesa dos seus ideais. Incentivados a não despertar atenção, para juntamente não suscitar ódio e desejo de vingança, aceitamos a nossa insignificância, abafando a voz que deseja gritar contra a insensatez com que convivemos, diariamente. Calamos nossas ideias, inúmeras vezes, para não causar melindres, mal-entendidos ou ir contra o “politicamente correto”, que num deslize pode se transformar em ação judicial. Expor ideias que não coadunem com as das massas pode ser perigoso e mal-interpretado; denunciar situações e atitudes pouco éticas é conquistar inimizades. Embalados nesse conformismo, aceitamos o simulacro de educação oferecida, as escolas em estado de abandono, as soluções esdrúxulas para compensar o olhar desviado para outros interesses. Conformamo-nos com a miséria da saúde pública, o estado de degradação em que são colocados os doentes, a espera para realizar o exame necessário, o aviltamento dos corredores nos prontos socorros, enquanto os órgãos fiscalizadores fingem desconhecer.

Por isso, quando aparece um homem destemido, como o Ministro Joaquim Barbosa, chamando de bandido a quem se porta como tal, a vontade é aplaudir de pé. Mas, não fique nisso o nosso entusiasmo. Não precisamos de heróis; precisamos de pessoas corretas, justas, coerentes. Descobrimos que nem tudo está perdido, neste país carente de valores: pode haver ética e comprometimento com a verdade, a justiça pode funcionar. Mas a lição deve começar em casa e ser posta em prática a cada momento que se fizer necessária.

 


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