Por Alfa Bile - alfabile@gmail.com
Fotógrafo, poeta e escritor. Autor do livro Lume, suas obras Fine Art já decoram hotéis como Hilton e Mercure. Publicado pela National Geographic e DJI Global @alfabile | @alfabilegaleria
Publicado 27/12/2025 08:43
Descobrir o poema-objeto foi como descobrir uma nova lente.
De repente, a palavra não precisava apenas dizer — ela podia ocupar espaço, criar forma, respirar como imagem.
Nesse tipo de poema, a diagramação não é enfeite.
Ela é parte do sentido.
O texto não vive só na leitura linear, mas no olhar que percorre, desce, pausa, enquadra.
É poesia que se aproxima da escultura e da fotografia ao mesmo tempo.
Quando escrevi este poema, eu não queria apenas falar sobre fotografar.
Queria fotografar com palavras.
A estrutura lembra uma câmera:
o visor, o corpo, o botão do disparo.
Cada bloco de texto é pensado como um enquadramento.
Cada espaço em branco funciona como silêncio, como respiro, como foco.
O conteúdo acompanha a forma:
instante dourado,
coração quente,
mar gelado.
Contrastes que sempre me atraíram na fotografia — e na vida.
O foco fino, ajustado, é tanto técnico quanto emocional.
E o ato de “eternizar o instante” é essa tentativa quase arrogante e, ao mesmo tempo, profundamente humana de segurar o tempo nem que seja por um segundo.
No poema-objeto, escrever vira montar.
É preciso decidir onde cada palavra mora,
quanto espaço ela ocupa,
quanto silêncio a acompanha.
Eu me apaixonei por esse estilo justamente por isso:
ele exige atenção, intenção e coerência entre forma e ideia.
Nada está ali por acaso.
Abaixo, deixo o poema como ele nasceu — imagem e texto inseparáveis:
_______
/ \
| FOTOGRAFEI
|
| O instante
| dourado
| coração
| quente
| mar
| gelado
|
| foco
| fino,
| ajustado
|
| eternizei
| o instante
|
| como quem
| domina a vida
| pelo visor
| da
| câmera
\_______/
Esse poema é sobre fotografia, mas também sobre controle, desejo e tentativa.
Sobre olhar o mundo pelo visor e acreditar, por um instante, que a vida cabe ali dentro.
No VersoLuz, sigo explorando esses encontros entre palavra, imagem e silêncio.
Onde a poesia aprende a enquadrar — e o olhar aprende a sentir.
📸 ✍️ Alfa Bile
VersoLuz | Jornal Diarinho
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