LUTO NO DIVINO
Alcides Lídio dos Santos, o seu Nino Folião, morre aos 79 anos em Penha
Rabequeiro e folião há 25 anos, Nino teve a vida marcada pela pesca e cantorias populares
Juvan Neto [editores@diarinho.com.br]
O mais querido rabequeiro das festas do Divino Espírito Santo se calou em Penha. Faleceu na terça-feira Alcides Lídio dos Santos, o seu Nino Pica Pau, pescador e músico com presença marcante há sete décadas nas tradições culturais da cidade. Ele participou das festas do Divino, do Mastro de São Sebastião, da Chimarrita, das Folias de Reis, do Fandango de São Gonçalo, entre outras manifestações centenárias.
Nascido em Armação do Itapocorói, Nino costumava dizer com orgulho que veio ao mundo “de parteira”. Na infância, ficou conhecido como Nino da Badinda, apelido que quase se perdeu no tempo, mas foi resgatado por amigos como o professor Eduardo Bajara de Souza.
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Criado nas praias de Penha, em meio às famílias Souza e Santos, Nino cresceu entre as manifestações populares de base luso-açoriana. Casou com Maura Santos e herdou do sogro, seu Bileu, a paixão pela rabeca. Seu Bileu era o rabequeiro das festas do Divino antes dele.
Segundo o jornalista e pesquisador da cultura popular Vilmar Carneiro, autor do livro Divino, o império da fé, Nino acompanhou imperadores em peditórios da bandeira do Divino e nas coroações de casais imperiais ao longo de décadas.
“Ele iniciou a vida no mar com a pesca artesanal e embarcou em várias praças pelo litoral brasileiro. Mas foi na navegação de cabotagem que viveu muitas histórias até se aposentar”, relembrou Vilmar.
Em vida, seu Nino foi homenageado no painel cultural do projeto Retratos da Nossa Gente, na praia do Cascalho, e recebeu o título de mestre popular da Fundação Cultural Municipal Picucho Santos, em 2023. Também ganhou o troféu Franklin Bento, em reconhecimento à sua trajetória.
Amizades com músicos populares marcaram sua jornada: inspirou-se em seu Bileu e conviveu com nomes como Picucho Santos, seu Osvaldo, seu Passinho, Domingo Bejú, Biba, Tavo, Paulinho da Viola e Caiçara. Mais recentemente, esteve ao lado de João Nestor de Souza, Beto Leite, Marcelo, Valmir, Juninho, Edu Leite, Neto Rocha e seu Zé Olávio, consolidando parcerias com trovas sertanejas e músicas raízes.
A notícia da morte foi sentida pelos colegas de folia. “Ele estava com infecção no intestino, em casa, e foi levado ao hospital de Navegantes com a esposa, mas não resistiu”, contou o mestre folião João Nestor. “Foram 15 anos de cantorias juntos. Ele garantiu o lugar dele com Deus”, lamentou.
Nino completou 25 anos no grupo de foliões, mas sua ligação com a cultura popular durou a vida inteira. “Desde o compositor Tavo ele tinha muita referência; o Tavo escreveu letras que encantam e arrepiam, celebrando a Armação”, lembrou João. O grupo prepara uma nova geração de músicos para dar continuidade ao legado de Nino, como Tiaguinho Adriano, Juninho Leite e outros.
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Despedida
“Nossas folias não serão mais as mesmas sem o Alcides. A voz se cala, mas as melodias se eternizam nas nossas memórias”, explicou o professor Bajara.
O velório teve início às 21h de terça-feira, na capela mortuária da igreja São João Batista e São Pedro, em Armação do Itapocorói. O sepultamento será às 17h, no cemitério da Armação, espaço que seu Nino tanto amou e celebrou em versos.
Juvan Neto
Juvan Neto; formado em Jornalismo pela Univali e graduando em Direito. Escreve sobre as cidades de Barra Velha, Penha e Balneário Piçarras.
