ZERO EMPATIA
Motoristas de apps recusam corrida com cadeirante
Ao verem cadeiras de rodas, muitos motoristas desistem do transporte; “alguns fazem até cara de nojo”, lamenta usuário
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
O cadeirante Ghabriel Lima, de 21 anos, que trabalha como assistente de comunicação, enfrenta dificuldades para usar carros de aplicativo em Itajaí. Ele precisa se deslocar até o escritório da empresa no centro da cidade e tem encarado resistência de motoristas que, ao verem a cadeira de rodas, acabam desistindo da corrida.
“Eu sou cadeirante, moro no bairro São Vicente e trabalho no centro de Itajaí. Minha mãe costuma me trazer de carro até o trabalho, mas às vezes preciso ir de Uber. Acontece que, por várias vezes, os motoristas, ao verem que uso cadeira de rodas, mesmo que ela caiba no carro deles, se recusam a me levar... Alguns fazem até cara de nojo”, lamentou Ghabriel.
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O jovem relata que todos os dias em que precisa da Uber, o primeiro motorista quase nunca o aceita. Às vezes, somente o terceiro ou quarto topa transportá-lo com a cadeira. “Já cheguei várias vezes atrasado ao trabalho por conta disso”, explica o assistente de comunicação.
Ele também já reportou o problema à operadora Uber, mas nunca teve retorno. “Eu uso o aplicativo da Uber. Eu não usava com tanta frequência ainda, porque mudei de emprego neste mês. No emprego antigo eu não precisava me deslocar, mas agora como trabalho no centro, eu tô precisando usar mais, só que não consigo usar por conta disso”, disse.
O DIARINHO enviou e-mail solicitando uma posição da Uber sobre as recusas dos motoristas, mas não teve retorno até o fechamento da matéria.
Buracos e falta de ciclovia
Ghabriel explica que usa cadeira de rodas em decorrência de sequelas sofridas no momento do nascimento. Ele demorou para nascer e sofreu com a falta de oxigenação, o que causou uma lesão cerebral que afetou, principalmente, a coordenação motora do lado direito do corpo e o equilíbrio.
Ele comenta que até poderia usar ônibus, mas o grande problema são as calçadas irregulares no trajeto para o trabalho. “Lá do ponto de ônibus do centro até o trabalho, as calçadas são muito ruins, não têm rampa e, às vezes, muitos buracos, não tem como eu usar as calçadas por conta disso”, explica.
Para conseguir se locomover com a cadeira, Ghabriel precisa transitar pela pista de rolamento, no meio da rua, o que torna o trajeto arriscado. “A ciclovia também é ruim de eu andar, e nem todos os lugares têm ciclovia. Muitas vezes eu tenho que me arriscar indo pela rua mesmo”, completa.
Franciele Marcon
Fran Marcon; formada em Jornalismo pela Univali com MBA em Gestão Editorial. Escreve sobre assuntos de Geral, Polícia, Política e é responsável pelas entrevistas do "Diz aí!"
