Por Vanessa Tonnet, psicóloga especialista em luto
O segundo domingo de maio chega com flores, mensagens de carinho e celebrações — mas também com silêncio, lágrimas e saudade para muitas mães que vivem o luto pela perda de um filho, e para filhos e filhas que já não têm suas mães por perto. Em datas como essa, o amor pulsa forte... mas a dor também.
Pouco se fala do peso que datas comemorativas têm para quem está enlutado. Ainda menos se fala das mães que, em meio a corações inflados de homenagens, carregam um vazio que não tem nome ...
O segundo domingo de maio chega com flores, mensagens de carinho e celebrações — mas também com silêncio, lágrimas e saudade para muitas mães que vivem o luto pela perda de um filho, e para filhos e filhas que já não têm suas mães por perto. Em datas como essa, o amor pulsa forte... mas a dor também.
Pouco se fala do peso que datas comemorativas têm para quem está enlutado. Ainda menos se fala das mães que, em meio a corações inflados de homenagens, carregam um vazio que não tem nome. Perder um filho é experimentar uma ruptura profunda, uma inversão da ordem natural da vida. É perder um pedaço de si, de um futuro sonhado, de uma narrativa que foi interrompida bruscamente.
O luto materno é singular e, muitas vezes, solitário. A sociedade costuma não saber como lidar, como acolher, como permanecer. Algumas mães escutam frases como “Você precisa ser forte” ou “Deus sabe o que faz”, que, embora bem intencionadas, ferem mais do que ajudam. Não há força que dispense cuidado, e não há fé que não possa conviver com a dor.
Elisabeth Kübler-Ross, médica que estudou profundamente o luto, dizia que as emoções que emergem após uma perda precisam ser sentidas, não racionalizadas. Raiva, culpa, tristeza, confusão — tudo isso faz parte do processo. E quando falamos de uma mãe que perdeu um filho, falamos de uma dor que não se resolve com o tempo, mas que precisa de espaço para existir, ser expressada e, aos poucos, ressignificada.
As datas comemorativas costumam reabrir feridas que pareciam estar cicatrizando. Nesses dias, a ausência se impõe com mais força, e é natural que a dor aumente. Não é sinal de regressão, mas sim de conexão profunda. Ao invés de evitar esses dias, algumas mães encontram conforto ao criar rituais que mantenham vivo o vínculo com seus filhos — escrever uma carta, acender uma vela, montar um cantinho da memória, plantar uma árvore ou ouvir uma música que represente o amor que permanece. Esses gestos, por mais simples que pareçam, ajudam a honrar a existência daquele que partiu e a dar sentido à continuidade da vida.
Essa é a ideia do “vínculo afetivo continuado”: o amor não termina com a morte. Ele pode se transformar em presença simbólica, em memória viva, em legado. Isso não impede o sofrimento, mas pode trazer algum consolo. Quando mães se permitem manter esse elo de forma saudável, criam espaço interno para que a saudade coexista com novos significados.
E se você, que lê esse texto, é uma mãe enlutada: saiba que sua dor é legítima, seu amor é eterno e sua história continua sendo importante. Você não está sozinha. Pode ser que a vida nunca volte a ser como antes — mas isso não significa que não possa, com o tempo e com apoio, encontrar novos significados.
Se o luto é o preço que pagamos pelo amor, que esse amor siga sendo lembrado, respeitado e acolhido.