Depois de dois anos, 55 e 56, veraneando na pensão da Dona Faceira, meu pai resolveu alugar uma casa, na praia de Armação. Era uma construção de dois pavimentos, térreo em alvenaria, parte de cima em madeira. Foi onde passamos os verões de 57, 58 e 59. Como a casa era ampla, normalmente tínhamos hóspede, o pessoal da família que ia passar uns dias conosco. O desconforto era o habitual para a época. Nos fundos a cozinha sem água encanada, fogão a lenha e num canto, um compartimento fechado – o quarto de banho: bacia, jarra e pregos nas paredes para a toalha e as roupas. No quintal, a indefectível “casinha”. Luz elétrica também não havia. Nesta época apareceram os lampiões Aladim, de querosene, cuja chama deixava incandescente uma “camisa” de amianto, com luz bem clara. Esta camisa queimava com facilidade e lá se ia a luz.
 
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A casa era alugada com o básico: mesa, cadeiras e camas. Essas, de molas com um colchão de palha por cima. Aprendemos desde logo que tínhamos que passar Neocid nele, senão as pulgas nos carregavam à noite. Assim sendo, a ida para a praia em 26 de dezembro era uma verdadeira mudança. Meu pai conseguia um caminhão de Cia. Malburg que carregava tudo. Até a casa do cachorro. Na fila da balsa da Barra do Rio podia-se esperar horas. Afinal, este era o único meio de atravessar o rio Itajaí-Açu, antes da ponte da BR 101. Apesar de toda a carga, meu pai comentava que sempre que ia passar o fim de semana conosco tinha uma lista de coisas para levar. Em fevereiro, carga dobrada para trazer de volta a Itajaí.
As mulheres se estafavam nas lidas da cozinha: café da manhã, almoço, café da tarde com bolinhos de fubá, de banana e jantar salgado. Como acordávamos cedo, não aguentávamos até o almoço sem comer. Minha mãe comprava um cacho de bananas, pendurava na varanda e diz ela que, às dez e meia, sobrava só o “engaço”. Dizia-se que banho de mar abria a apetite, e como! Não se podia ir para o mar de barriga cheia: dava congestão e inúmeros eram os casos citados. Mesmo assim havia o banho de mar cedo, outro depois das bananas e o último à tarde. – “Mãe, já posso ir pra água”? era a pergunta que mais se ouvia. No final da temporada, deixava de ser novidade. Engajados com os nativos da nossa idade, preferíamos pescar, caçar passarinhos e ler gibis. Aliás “Parque Gibi” era o nome de um parque de diversões que se instalou certo verão no terreno vizinho à nossa casa. O proprietário, de cabelo abrilhantinado e bigodinho fino, atendia a todos pelo grito esganiçado de “- Ei! Seu Gibiêê!!!!”. Os carrosséis funcionavam pouco, mas à noite sempre existia uma luz acesa, para – segundo meu pai – uma jogatina danada! Deste parque ficou a recordação muito nítida sempre que ouço a música: “Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora...”, que os alto-falantes tocavam até a exaustão.