O caminho que nós percorremos desde o nosso nascimento não foi gerado do nada. Estamos envolvidos no que já estava ali antes de nós e que tivemos que, por imposição, assumir. Esse sistema todo de coisas que já se colocavam ao nosso redor, nos envolvendo por completo como um manto, cheio de cores e nuances de formas, conteúdos e métricas se arrastam para dentro de nós. Nossa alimentação é uma necessidade biológica e uma prerrogativa cultural. Gostar disso ou daquilo, vestir-se de determinado [determinado mesmo] jeito, morar em organização arquitetônica “preferida”, assumir o ritmo de vida que sobrevoa nossa existência... são condicionamentos sociais e culturais e políticos que nos orientam e formam nossa existência social. O caminho que trilhamos não foi gerado do nada. Há história antes de cada um de nós, independente de cada um de nós, que faz que forma cada um de nós.
 
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Quando viajamos para outros ambientes culturais, procuramos nos traços de nossos caminhos originais as formas de interpretação do mundo. Estranhos num mundo que se formou e se organizou de forma diferente daquele no qual vivemos, agimos como arqueólogos à procura de vestígios de parâmetros que nos ajudem a entender aquelas formas de vidas estranhas ao nosso mundo “particular”.
Nossa forma de pensar, nosso cérebro e nossa mente não estão desgrudados do mundo no qual estamos embutidos. Nós precisamos de alguma história maior que nossa vida para nos mantermos ativos frente ao mundo que vivemos. A memória que temos das relações entre as coisas e as pessoas formam uma organização da vida por inteiro. Por isso, pessoas diagnosticadas com Alzheimer, com a perda da cumulativa da memória de si mesmo no mundo e das relações que lhe formaram identidade, com a perda das orientações sociais, faz com que a perda da memória seja tão desesperadora.
Por outro lado, a velocidade das mudanças tecnológicas e sociais é tão intensa [aos modelos de organização social anterior à internet] que parece difícil aceitar que a experiência de muitas gerações, o conhecimento e a sabedoria acumulados na formação histórica têm algum valor para as gerações que nos sucedem. Tudo isso sugere um processo de desorientação da história para as novas formações sociais. As pessoas mais velhas tentarão se manter “atualizadas” pelo esforço de ter que assumir as mudanças civilizacionais que imperam no mundo atual. O acúmulo de conhecimentos e sabedorias deixa de ser importante para o oxigênio respirado por novos seres.
O passado já não importa, a não ser para marcar o antigo, o superado, o que não mais pode ser, o que não serve para compor o pensamento. O futuro não é mais um plano de vida, planejamento, um roteiro a ser pensado. O tempo já não existe, é um instantâneo que se desmancha no ar. Os códigos algoritmos formam a trajetória do comportamento. Sem passado, sem futuro, sem tempo: nossa vida sucumbe a um conjunto de códigos do que acionamos na internet. Qualquer coisa! E esse caminho parece que foi gerado do nada: sem tempo de ser, sem passado para orientar, sem futuro para planejar!