Por Alfa Bile - alfabile@gmail.com
Fotógrafo, poeta e escritor. Autor do livro Lume, suas obras Fine Art já decoram hotéis como Hilton e Mercure. Publicado pela National Geographic e DJI Global @alfabile | @alfabilegaleria
Publicado 12/12/2025 09:26
Sempre me entusiasmam os encontros que a arte nos proporciona. O palco — seja ele virtual ou físico — é essa estrada superconectada que nos permite cruzar caminhos com pessoas incríveis. Recentemente, tive o prazer de fortalecer os laços com Mara Graf, uma amiga querida que conheci nos corredores do Coral da Câmara de Vereadores de Itajaí e que, descobri, já conhecia e acompanhava minha arte fotográfica há anos.
Mara, além de ser uma alma gentil, é terapeuta, escritora e autora de textos belíssimos e extremamente perspicazes, como este que escolhi para compartilhar com vocês no VersoLuz hoje. Ela nos convida a desempacotar um antigo e popular ditado, revelando a complexidade entre a prudência e o silenciamento.
Com a palavra, Mara Graf:
Falar ou Silenciar
Quantas vezes você já engoliu palavras para evitar conflito, rejeição ou julgamento?
O ditado popular “Em boca fechada não entra mosquito” atravessa gerações como um conselho de prudência: pensar antes de falar, evitar desgastes desnecessários, preservar-se.
Do ponto de vista simbólico, a “boca fechada” representa o controle sobre a expressão, seja de palavras, emoções ou opiniões. Em um olhar mais crítico, o mesmo ditado pode refletir um padrão de repressão emocional aprendido culturalmente. O silêncio excessivo pode ser uma forma de defesa, ligada ao medo do julgamento, à insegurança ou à experiência de não ter o direito de expressar-se.
Saber calar-se em momentos oportunos é uma forma de inteligência emocional. Ele favorece a escuta, o discernimento e a autorregulação. Mas quando o silêncio se transforma em regra, quando a “boca fechada” deixa de ser escolha e passa a ser defesa, ele pode se tornar um sintoma: o sintoma de quem aprendeu que expressar-se é perigoso, inútil ou inadequado.
À primeira vista, o ditado orienta sobre a importância do silêncio e da discrição. No entanto, sob uma perspectiva psicológica, ele pode revelar aspectos mais profundos do comportamento humano, especialmente relacionados à comunicação, à repressão emocional e às estratégias de adaptação social.
Aquilo que não foi dito acumula-se dentro do corpo e da mente, manifestando-se em forma de ansiedade, tensão, somatizações ou uma sensação difusa de vazio.
Nesse sentido, o “mosquito” que o ditado tenta evitar pode simbolizar o incômodo do confronto, mas o preço de manter a boca fechada é, muitas vezes, o afastamento de si mesmo. Aquele engolir tudo vai prejudicando-nos lentamente.
O silêncio pode, sim, ser um gesto de maturidade, mas falar é um ato de presença. Falar não é sobre dizer tudo, nem sobre se expor sem filtro, é sobre existir nas palavras, reconhecer o que se sente e permitir-se comunicar com autenticidade. Precisamos encontrar o equilíbrio, reconhecendo quando o silêncio é sabedoria e quando ele é aprisionamento.
O ditado “Em boca fechada não entra mosquito” pode ser reinterpretado não como um convite ao silêncio permanente, mas como um lembrete de que a palavra e o silêncio são ferramentas de saúde emocional. Ambos podem proteger, desde que usados com consciência e liberdade interior.
O ditado pode ser compreendido como um convite à autorreflexão sobre o equilíbrio entre o falar e o calar. O silêncio pode ser um ato de sabedoria, mas também pode esconder a negação de si mesmo. Saber quando e como se expressar é uma habilidade emocional que requer autoconhecimento e maturidade afetiva.
Em suma, “Em boca fechada não entra mosquito” pode ser tanto um lembrete de prudência quanto um alerta sobre os riscos do silenciamento. A sabedoria está em reconhecer que a saúde emocional não se encontra no extremo do silêncio absoluto, mas na capacidade de comunicar-se de forma autêntica e consciente, respeitando a si e aos outros.
Que possamos aprender a equilibrar: falar quando é preciso, calar quando é cuidado — e nunca deixar o medo decidir por nós.
“Silenciar pode proteger, mas é na palavra consciente que nos encontramos e nos libertamos.”
Mara Graf
Sobre a Autora:
Edna Mara Graf, mais conhecida como Mara Graf, nasceu em Itajaí, Santa Catarina, no final da década de 50. É a quinta filha de um casal que buscou, dentro das suas possibilidades, fornecer uma educação de qualidade, unida a princípios éticos e morais.
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