Em todas as guerras e confrontos, a despeito de atrocidades e mortes, sortilégios e tramas, sortílegos e bruxos, é fácil perder a racionalidade argumentativa e se perder no heroísmo do combate, o senso de responsabilidade com os outros. Tomados por forças internas, revolvidas nas entranhas, voltadas à revolta pelo ódio e à conquista pelo triunfo das armas, os “soldados” recebem o caminho e a missão dos superiores. Fabricados em mesas de trabalho, os “soldados” são colocados em guerra pela chance de medalhas, de celebração de heroísmos recauchutantes.
Eliminar o adversário, colocá-lo ao chão, com olhos parados, corpo frio, sangue enrijecido, torna o impulso vital do tiro no peito o fervor da missão cumprida. “Soldado” não pensa, não pode pensar! Tem que defender a “pátria”, a “mátria”, a casa e os postos dos “superiores”. “Soldado” precisa de combate para frisar sua missão. Em países marcados pelo subdesenvolvimento democrático, a política é a exasperação da guerra como tragédia e como farsa.
Em circunstâncias históricas a eleição não é a escolha de alguém, mas a negação do seu concorrente, adversário, inimigo. Eleições, como fulgor ou relâmpago, não combinam voto e futuro, mas rebelião e passado. Voto e eleição tornam-se guerras. Não se sabe no que vai ser e no que vai dar, posto que a seleção e escrutínio dão-se por negação, revolta, traição. Após isso, os dias de amanhã só podem ser mostrados pelo espelho do passado.
Alojado o monstro dentro do palácio, conviver com ele é um desafio diário, temeroso e ameaçador. Na familiaridade cotidiana com a tragédia, as aventuras da farsa e das mentiras e das manipulações encontram as condições propícias para explodir como bombas. Alojado o monstro no palácio, já que está ali e ali estará, não cabe mais a vergonha e o escrúpulo, a racionalidade e compreensão dos fatos, o argumento e a história pela realidade das coisas. Com medo da própria culpa pela morte alojada na arma do “soldado”, o remorso, a farsa, a mentira fabricada, a falsidade, as manipulações, o arroto e o vômito, se transferem ao opositor.
Parar de pensar e alvejar o adversário-alvo é o principal “treinamento” e “heroísmo” do “soldado” sedento pela medalha. Reconhecimento forjado que esconderá o infortúnio de sua “missão encomendada”, fundida por sua intolerância, preconceito, machismo, homofobia, ignorância política, insensatez, desconhecimento sobre sua própria história e sobre a história que envolve sua vida social e seu organismo vivo.
A Política, em países de baixo desenvolvimento democrático, acaba e permanece, por tempos corrosivos, como a arte da guerra e seus assombros. Outrora, em outros lugares, a Política fora a Arte da Esperança. Voto serve, aqui embaixo, como arma, pouco ou nada de esperança. Para a linha do Sul cabe a condição de que “A História se repete, a primeira como tragédia, a segunda como farsa”. É necessário mais do que eleições para mudar a política brasileira!