Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
A finitude do rei, a vida da coroa
Vivemos num sistema heliocêntrico de planetas esféricos e com um conjunto enorme de corpos e astros cósmicos. No Egito antigo, muito antigo, o Planeta Terra era considerado plano e os astros eram como lâmpadas que ficavam ao redor da borda. Aristóteles e seus seguidores consideravam que a Terra era o centro de tudo [geocentrismo], senão, por que estaríamos aqui a falar sobre isso? Partindo do homem, o sistema é antropocêntrico.
No escrutínio sobre o comportamento humano há muitos traços a serem compreendidos. O egocentrismo e o personalismo se destacam. Para humanos assim tudo se refere ao próprio eu e o centro das coisas orbitam ao seu redor. O personalista, o egocêntrico se manifestam como se fossem o juiz das coisas e das outras pessoas. Para ele o que diz é a mais clara profusão da verdade e o mundo nasce a partir de suas manifestações independentemente dos fatos. Afirmações sobre o mundo ao seu redor, a presença de erros em passado recente [ivermectina?] se tornam malabarismos de fala e posicionamentos.
Quando algo é um desejo, o cenário que o compõe se transmuta em maravilhas ardentes. Quando algo é um obstáculo, culpados aparecem, fantasmas arrastam correntes, o vento bate portas e cria agonias ao zumbir. A orientação para tudo e para todos é o desejo pessoal. Caso algo possa dar errado é porque houvera roubo, ilegalidade, usurpação. Já que o personalista é o centro das coisas, somente por um erro planejado ou um acaso maldoso é que seu ego não terá sucesso. Se algo der errado em sua trajetória, então houve, necessariamente, corrupção. É o egocêntrico o valor das coisas, o juiz e julgamento.
Não poderia haver instituições e leis que pudessem ser bloqueios aos seus desejos; estão elas erradas e precisam ser adequadas ao centro do mundo: o eu personalista. Se há pessoas que expressam ideias contrárias, intenções outras e que não se convertem ao desejo do centro dos desejos, então devem ser expurgadas, malogradas, derrubadas, desmoralizadas.
Sempre que o egocêntrico se vê em apuros, logo aponta um adversário a ser derrotado, uma tese [ainda que seja a mais escrachada mentira] a ser arma para acusação de uma “guerra santa” cuja santidade é o personalista. Seu caminho, como a epopeia de um mito, é a vitória necessária. O contrário de seu sucesso é a corrupção do mundo contra si, ser mais importante entre tudo e todos os outros.
Como vivemos em grupo e nos relacionamos todo o tempo, precisamos de instâncias mediadoras das relações para superarmos o instinto abrasivo da “guerra de todos contra todos” ou a situação de o “homem ser o lobo do homem” [Hobbes]. Contra as atrocidades e barbáries que o homem é capaz de realizar, se requer estruturas mediadoras. É por isso que existem instituições políticas para que o poder seja sempre e sempre e sempre mediado por condições que se vigoram fora do ego do humano.
Para o futuro, mediados que somos por instituições, há muitas alter-nativas para se compor o alter ego [pessoa na qual se pode confiar como em si mesmo]: podemos morrer, podemos sofrer punições, podemos vencer, podemos perder, podemos desistir, podemos... Somente autoritários, egocêntricos, personalistas acreditam ser o sol do cosmos, e que se algo der errado é porque houve uma conspiração contra si. A monarquia é uma instituição cujo rei é substituído enquanto o reino permanece. A coroa não vai ao funeral.