Era o ano de 1934 e o mundo se ebulia em batalhas. Joel Mattias tinha 16 anos. Durante um passeio no parque de Alfinetes Cinzas, cidade para onde se mudara para estudar, tropeçou em uma pedra mágica. Ele poderia fazer um único pedido no tempo de um minuto e, depois, a pedra se desintegraria. Pediu para ser jovem para sempre. Nunca mais amadureceu e ficou com a inteligência e debilidades de seus 16 anos. Enquanto todos experimentavam amadurecimento pessoal, aprendiam a lidar com a realidade na qual estavam envolvidos, conheciam novos ensaios e testes da vida, Joel Mattias ficou preso em seus 16 anos.
Joel Mattias mudou de cidade e passou a morar num palácio e, como por encanto, conseguiu assumir o cargo de chefe do Bordel Aurora Platina. Em sua permanente adolescência, sem maturidade pessoal, até então formado em experiências de violência e a combinação psíquica de autoritarismo e egoísmo, se tornara um ser explosivo aos seus 50 e poucos anos. Incapaz de tratar os problemas que sempre apareciam, muitas vezes gerados pelo impulso psicológico dos temores que habitavam sua cabeça, Joel Mattias gritava sua falta de lucidez e acusa os mais próximos para se proteger. Era medo em si mesmo.
Dia após dia, ao retornar para casa, sentava-se a beira da porta e limpava seus pés sujos de lama no capacho que tinha o desenho de um arbusto. Tão corriqueira a ação que fizera amizade com o tapete limpa-pés e dera-lhe até nome: Arbusto Aires. Arbusto Aries ouvia todos os seus delírios, acusações, vozes imperativas e cumpria o papel para o qual fora designado: limpar seus pés. Joel Mattias via seus amigos assim: de cima para baixo, como um déspota absolutista da Idade Média.
Como chefe do Bordel Aurora Platina tentou permanecer no posto de “eu mando, todos obedecem” e tramou sua permanência junto a amigos que se lambuzavam no desvario dos desejos atendidos. Cultivaram como estratégia combater um antagonista, falar de soluções fáceis e ilusórias para a cura dos males do corpo, combater novos opositores, culpar terceiros por suas inabilidades e ter como recurso a dissolução dos oponentes.
No início parecia que tudo daria certo, que ficaria para sempre no posto de comando do Bordel Aurora Platina, que falaria o que quisesse sem ser limitado, que poderia acusar qualquer um de qualquer coisa e sair impune: seria o absolutismo reinante. Joel Mattias lembrara quantas vezes tinha ficado com a ponta fina do chicote e agora, como vingança, estava com as mãos no cabo. Como vingador este era o seu melhor momento.
Joel Mattias, por sua arrogância e imprudência, foi perdendo legitimidade, espaço e as pessoas começaram a observá-lo como um garoto de 16 anos, o tamanho do amadurecimento de sua mente. Suas palavras já não eram mais livres de críticas, suas maneiras já não eram uma visão de combate, sua arrogância já não era mais tolerada. Chegava a hora de mudar o comandante do Bordel Aurora Platina, de mudar o nome do estabelecimento e de amadurecer para a vida coletiva.
Ainda resistiam o ar autoritário e o comportamento despótico dos seus seguidores, traço da cultura daquele povo. Pela incapacidade de tratar os problemas com democracia, tal povo adotava a linha da exclusão e da eliminação dos diferentes e discordantes como solução. Consideravam ser melhor eliminar o conflitante a resolver o conflito. O povo estava, pela magia da pedra mágica, condenado à permanente imaturidade democrática. E ainda não se sabe por quanto tempo dura o efeito pedra mágica. Para Joel Mattias restava, à beira da porta, seu amigo Arbusto Aires para limpar seus pés e ser pisado com o ódio do garoto que não teve atendidos seus desejos do dia. Joel Mattias gritou ao horizonte, mas ele não respondeu!