Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
A mitomania como política
Sempre ouvimos falar que acreditar em promessa de político é coisa de pessoas ingênuas. Isso porque o político, enquanto candidato, é capaz de prometer o que se sabe ser impossível ou extremamente difícil de ser cumprido. Mas o político-candidato organiza sua atitude pela potência da esperança, pela necessidade de sermos melhores. Não é a sinceridade ou a honestidade que prevalecerá durante sua campanha, mas o malabarismo da esperança.
Depois, quando eleito, o mundo da gestão política assombra toda a crença idílica e nos faz encarar os fatos. A realidade se impõe e nasce o momento da avaliação do comportamento e dos princípios e caráter do gestor público. Muito se revela aqui: a vaidade pessoal pelo prestígio; o fascínio pelo poder; o privilégio de ser o único e ser visto como ‘especial’.
A revelação pode ser percebida pela forma como os gestores tratam os problemas que enfrentam e que têm que enfrentar pela responsabilidade do cargo que ocupam. A pandemia talvez seja o fenômeno que uniformize todos os gestores públicos na medida em que está acima de qualquer desejo pessoal. A luta contra os efeitos do Coronavírus e da Covid19 não é uma escolha de preferência pessoal, mas de necessidade coletiva.
Não é uma gripe sem consequência; não é uma doença de contaminação seletiva; não é algo que se tenha conhecimento acumulado suficiente capaz de gerar elementos para tomada de decisões seguras. É preciso seguir um caminho trilhado por instituições que vivem da experiência [método experimental], da descoberta [Eureka], da crítica metodológica como é a ciência. Saber que ignorar é a forma de vir a conhecer; é a dúvida e a incerteza que permite dar um passo adiante; o meu mundo perfeito me emburrece e me faz um dopado social.
Ainda mais perigoso é um gestor público que, pela condição de decidir políticas de enfrentamento de problemas e de desenvolvimento econômico e social, se comporta como mitomaníaco. Um distúrbio grave que é baseado na compulsão de mentir, de se acreditar na própria mentira, e de se traçar a mentira como forma de se fazer aceito, de se criar roteiros e de esconder suas próprias fraquezas e medos.
Assumir o erro, resistir à vaidade e fazer a autocrítica são caminhos frutíferos para uma boa colheita de esperança e credibilidade. Quando “se erra querendo acertar”, a primeira atitude é de assumir o erro e pedir desculpas, senão é apenas mentira. Entre a realidade e o desejo, vale a imposição dos fatos. Não é apenas uma gripe, ainda não há um coquetel de tratamento precoce contra a Covid19, e a vacina [que não transforma gente em jacaré] é o único meio de luta até aqui.
Na gestão pública a força não é uma equivalência de quanto mal você deixou de fazer, mas quanto bem você conseguiu desenvolver; não é quantos você não matou, mas quantos você conseguiu fazer sobreviver. Eu não quero um medicamento que não me faça mal; quero um que me faça bem. Mentir para você mesmo como maneira de elaborar um mundo pessoal é uma improvisação que demonstrará um fato: sua fraqueza! O mundo da busca da verdade é mais compensador e muito mais leve para ser carregado: sem fantasmas, sem fantasias, sem mitomanias.