JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
A invenção do Estado Brasileiro é cercada pela busca da riqueza. A quem descobriu o Brasil, marcado na versão final do Tratado de Tordesilhas de 1494 e que dividiu o novo mundo entre espanhóis e portugueses, interessava antes o ouro e a prata independente da terra, da gente, da curiosidade sobre a novidade formal instalada em 1500. A visão utilitária pela riqueza é a forma do primeiro contato com o mundo novo.
A Aristocracia, grupo de formação das definições políticas que encaminham a trajetória do novo território, se consolida senhorialmente como detentora dos mandos políticos e dos castigos econômicos. Alimenta-se do produtor de riquezas, o mercado, que se alinha na influência das determinações da corte.
Como senhores do poder político, os donos do estado, criam o patrimonialismo como organização política, e fecham-se sobre si mesmos, sem cidadania, sem república, sem democracia. A burocracia aliada ao patrimonialismo não nasce pelo sentido do aparelhamento racional, mas como forma de apropriação do cargo e no distanciamento do direito. A roda vida do poder gira sobre si mesma e relega aos outros a pressão originada na dor do dia, na desesperança no futuro e da fome existencial e social.
A aristocracia, ao passar dos tempos, faz nascer o império organizado no presidencialismo de coalisão. Por um erro na mira política, a constituição de veias parlamentarista faz circular o sangue do presidencialismo. Na tentativa de obter um corpo exemplar, a coalisão se mostra uma parteira desastrada, carregada de imperícias e impropérios. A cada contração, a dor parece desestimular o nascimento de um novo ser político. Os padrinhos e as babás sufocam a parturiente, empurram e puxam, gritam e agitam os braços; se apressam entre corredores, fazem reuniões secretas. Tentam se apoderar do nascimento e do nascente, como pais dedicados e vaidosos.
O que buscam, com a mesquinhez no bolso de seus paletós, é o patrimônio e a riqueza, o prestígio e o privilégio originários da herança que cabe ao bebê que está por nascer. Não se preocupam com a falta de oxigênio que pode causar riscos severos aos pacientes e nem com o cuidado dos primeiros exames e vacinas protetoras. Não fazem o teste do pezinho, mas da mãozinha.
Sentir-se responsável já não é tão confortável quanto sentir-se indignado e injustiçado. Não olhar para os erros que cometeu tem o efeito de estender a mão em acusação, gritar ofensas para não se encarar e ver-se a si e aos seus demônios que habitam seu corpo e apavoram sua mente.
Estarão sob a tutela dos pares para que, no julgo da paternidade, possam ser empossados para a definição da tutela burocrática do futuro do bebê que ainda está sob contrações. Para a mãe, Senhora Politique, e sua história, apenas o que for justificativa para o agora. Nenhuma memória, apenas vagas lembranças ajustadas aos interesses imediatos da conveniência pessoal. E como contribuição para a autodefesa, acusa-se um próximo para se afastar de seus próprios problemas surgidos durante a sua vida, especialmente aqueles de rejeição.