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As cadeiras vazias
Havia sempre dois espaços vazios na casa. Na sala de jantar, havia quatro cadeiras, mas apenas o casal para sentar-se à mesa. Na sala de estar, um sofá bege e confortável contornava o encontro de duas paredes. O sofá também era para quatro pessoas. A casa tinha três quartos e, adivinhe, só o dos cônjuges ocupado. Os demais apenas abrigavam móveis e utensílios que não eram mais utilizados.
Aqueles espaços vazios provocavam muita curiosidade nos amigos e parentes do casal. As perguntas indiscretas eram inevitáveis: por que uma casa tão grande?. Vocês pretendem ter quantos filhos, para ter uma casa desse tamanho?
Os dois desconversavam. Certa vez, uma amiga da esposa insistiu nas perguntas mesmo após uma tentativa de mudança de assunto. O marido teve de interferir incisivamente, dizendo que a casa fora feita na medida para as necessidades do casal, e que, sim, o casal era mais espaçoso que outros casais considerados normais.
Um dia o marido saiu para trabalhar e pensou se realmente não era o caso de mudar para uma casa menor, talvez um apartamento de um cômodo e uma cozinha americana com espaço só para dois. Afinal, a vida já lhes tinha tomado a metade dos anos. Ao final da tarde, levou a ideia para a mulher, que relutou muito, pois não queria se desfazer do Baidek, o cachorro.
Enquanto o marido insistia, a esposa resistia, ardorosamente.
Dois dias depois tiveram uma discussão. Ele tentou convencê-la de que era a melhor alternativa: a atual casa é grande para limpar, precisamos sempre de caseiros durante as viagens, a manutenção é cara, e assim por diante. Ela, em contraposição, dizia que não entregaria o Baidek a outra família, e que sentia a necessidade de olhar, regar e conversar com as plantas do jardim todos os dias.
Vendo que sua insistência não daria resultado algum, ele se rendeu, como todo homem, aos desejos da esposa e, assim, decidiram não mudar.
Hoje, as pessoas persistem com suas perguntas indiscretas. As cadeiras e os espaços permanecem vazios. E a casa ainda é a mesma, inclusive com o Baidek correndo no jardim.