O conjunto de atividades que dependem diretamente dos recursos marinhos — conhecido como Economia Azul — já responde por 2,9% do PIB brasileiro e, de forma direta, por 1,07% dos empregos. Quando considerados os efeitos indiretos e os elos produtivos, essa participação sobe para 6,5% do PIB, movimentando mais de 4,7 milhões de trabalhadores.
Mais do que um indicador econômico, o avanço da Economia Azul representa uma mudança de paradigma: a compreensão de que o mar é fonte de inovação, conhecimento e sustentabilidade. De acordo ...
  
Mais do que um indicador econômico, o avanço da Economia Azul representa uma mudança de paradigma: a compreensão de que o mar é fonte de inovação, conhecimento e sustentabilidade. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o setor tem alto potencial de crescimento, mas exige uma nova cultura de ensino e formação profissional, capaz de unir ciência, tecnologia e gestão.
 
        
        
        
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O oceanólogo Maurício Torronteguy, sócio-diretor da MTCN Soluções Sustentáveis e doutorando em Oceanografia, destaca que a economia do mar exige visão multidisciplinar, muito além das engenharias. “Além de engenheiros, é essencial reconhecer o papel de oceanógrafos, biólogos, geólogos e hidrógrafos”, afirma. “Temos uma deficiência na formação de profissionais, resultado do distanciamento entre a academia e as reais demandas do mercado.”
 
Para o professor Marcos Polette, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a expansão das engenharias e ciências do mar já molda uma nova geração conectada à sustentabilidade oceânica. “Disciplinas voltadas à biotecnologia marinha, energias renováveis e gestão costeira aproximam os alunos das demandas reais do mar. As competências em robótica submarina e gestão ambiental serão indispensáveis no futuro”, explica.
  
Para Polette, o Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (Inpo) tem papel essencial na integração entre universidades e empresas, embora as colaborações ainda careçam de políticas de longo prazo. “O Brasil possui ilhas de excelência, bons cursos e pesquisas de ponta, mas raramente navegando no mesmo rumo. Já temos infraestrutura moderna, mas falta investimento articulado entre governo, setor produtivo e academia”, pondera.
 
Para o oceanógrafo Rodrigo Mazzoleni, coordenador do curso de Oceanografia da Univali, a expansão das engenharias e das ciências do mar no Brasil tem desempenhado papel decisivo na consolidação da Economia Azul como vetor de desenvolvimento sustentável. Ele destaca que Santa Catarina é exemplo na união entre ensino, pesquisa e indústria marítima.
 
“O estado forma profissionais com sólida base científica e tecnológica, preparados para integrar inovação e sustentabilidade em portos, maricultura e energia offshore”, diz. No entanto, para atender às novas demandas da Economia Azul, Mazzoleni defende a formação inter e transdisciplinar, com domínio de tecnologias emergentes e capacidade de liderança socioambiental.
  
Para o professor doutor Thauan Santos, da Escola de Guerra Naval (EGN), onde coordena o Grupo de Economia do Mar (GEM) do Rio de Janeiro, ainda falta integração entre ciência e economia. “Boa parte dos cursos é excessivamente técnica. Falta uma base sólida em empreendedorismo e sustentabilidade. O profissional da Economia Azul precisa enxergar o mar de forma mais ampla e estratégica”, defende.
 
Formar para o mar é construir oportunidades desde a base
A qualificação técnica também avança. Segundo Silvana Meneghin, gerente do Sistema Fiesc no Vale do Itajaí, o Senai tem atuado em parceria com estaleiros e sindicatos para formar novos profissionais. “Realizamos um levantamento das necessidades do setor e desenvolvemos cursos personalizados. O programa de aprendizagem industrial oferece formação teórica e prática a jovens a partir dos 14 anos”, explica.
 
Já no eixo empresarial, o Sebrae/SC também tem papel relevante. A analista técnica Karen Valter destaca que o projeto de Economia Azul fortalece a gestão e a competitividade dos negócios ligados ao mar.
 
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“Oferecemos consultorias em planejamento, finanças, marketing e certificações. É preciso sensibilizar os empreendedores sobre a importância da inovação contínua. Investir em capacitação gera crescimento e sustentabilidade para todo o setor”, conclui.