POLÊMICA
Maior evento conservador do sul do Brasil provoca nota de repúdio de centros acadêmicos da Univali
Apas 2025, conferência com políticos da direita radical, vai acontecer em Itajaí
João Batista [editores@diarinho.com.br]

Uma nota de repúdio assinada por 14 centros acadêmicos e entidades estudantis da Univali é contra a realização da conferência Ação Política Atlântico Sul (Apas), no dia 23 de agosto, no teatro Adelaide Konder, no campus da Univali, em Itajaí. O Apas é um evento político de extrema direita, organizado pela produtora Brasil Paralelo para divulgar o pensamento conservador. Em 2024, o evento foi em Balneário Camboriú.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e a deputada estadual Ana Campagnolo (PL), conhecidos parlamentares bolsonaristas, e o escritor Flávio Morgenstern, um dos novos pensadores da direita brasileira, estão entre os palestrantes confirmados para o evento em Itajaí. O manifesto critica que a conferência dará palco para o negacionismo científico e o revisionismo histórico promovidos pela Brasil Paralelo.
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Os diretórios acadêmicos lembram que a produtora está alinhada aos pensamentos do escritor Olavo de Carvalho, falecido em 2022, ideólogo da direita no Brasil e considerado “guru” do bolsonarismo. A nota cita que a Brasil Paralelo exalta a ditadura militar e nega evidências científicas, como no caso da crise climática mundial e da pandemia de covid-19.
“A produtora também já protagonizou episódios graves, como a utilização de documentos falsos em um documentário que distorce e ataca a história de Maria da Penha, que ficou paraplégica após ser vítima de violência doméstica e nomeia a lei brasileira”, destacam as entidades, frisando que, depois do episódio, Maria da Penha passou a receber ameaças e teve que entrar em programa de proteção.
O grupo aponta que não dá para defender a conferência com o argumento da “liberdade de expressão”. “Não se trata de pluralidade de ideias, mas de abrir espaço para narrativas violentas e desumanas, que negam o direito de existência de parte da população e afrontam os princípios que sustentam o rigor científico e a função social da universidade”, diz trecho da nota.
O manifesto afirma que o evento contraria o artigo 4º do Estatuto e Regimento Geral da Univali, que trata do respeito a princípios como a dignidade e proíbe qualquer tipo de discriminação, seja filosófica, política, religiosa, racial ou de classe.
O repúdio também recai contra os palestrantes escolhidos, entre Nikolas Ferreira, líder da campanha de anistia para Jair Bolsonaro, e Ana Campagnolo, conhecida pelo discurso antifeminista. “O evento promove um viés ideológico conservador que, em conjunto com os palestrantes, tem um histórico comprovado de discriminação religiosa, racial, de gênero, de classe e cultura, indo totalmente contra os valores supostamente defendidos pela universidade”.
A nota cobra posicionamento público da reitoria da Univali e do Diretório Central dos Estudantes (DCE), bem como a rescisão do contrato de locação do teatro da Univali para o evento. Estudantes e entidades estudantis foram convocados a se mobilizar para barrar a conferência.
Liberdade de expressão
Em nota, a Univali alegou compromisso inegociável com a liberdade de expressão. “Princípio que não é seletivo: vale para todas as vozes. Uma universidade que não possa ser espaço para o debate de ideias perde sua essência. Impedir a realização de um evento por discordar de suas ideias significa substituir o diálogo pela censura”, frisou.
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O posicionamento ainda destaca que o evento não é organizado pela Univali. “Como universidade comunitária, nossos espaços estão abertos a todos os debates e não interferimos no conteúdo de eventos realizados por terceiros que locam nossas dependências, desde que respeitadas as leis e as normas institucionais”, explica.
A nota termina destacando o incentivo à pluralidade de ideias: “Ao longo de nossa história, acolhemos discussões de diferentes espectros políticos e ideológicos, certos de que é pelo diálogo plural que se constrói uma sociedade melhor. Seguiremos garantindo que nossos espaços permaneçam abertos para todas as ideias, reafirmando nosso papel como ambiente livre, plural e democrático”.
João Batista
João Batista; jornalista no DIARINHO, formado pela Faculdade Ielusc (Joinville), com atuação em midia impressa e jornalismo digital, focado em notícias locais e matérias especiais.