Diz aí, Décio Lima!
"O porto não pode ser objeto de um debate pequeno de natureza política e de polarização"
O presidente Nacional do Sebrae e presidente do PT de Santa Catarina, Décio Lima, participou do “Diz aí!” com a jornalista Fran Marcon e o colunista JC
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]




O senhor ficou como o grande “vilão” da federalização do porto de Itajaí. O que tem a dizer aos seus críticos?
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Décio: Vilões são aqueles que destruíram o porto, que pilharam o patrimônio público de forma irresponsável, que macularam profundamente a economia da cidade, do estado ...
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Décio: Vilões são aqueles que destruíram o porto, que pilharam o patrimônio público de forma irresponsável, que macularam profundamente a economia da cidade, do estado e do país. Eu tenho muita tranquilidade, porque os meus críticos são aqueles que não quiseram, na verdade, assumir a responsabilidade dos acontecimentos. Nós tínhamos uma Secretaria Nacional de Portos, essa secretaria deixou os contratos vencerem, deixou sair dali aqueles que operavam o porto, não fez os processos no tempo devido, deixou o porto simplesmente paralisar. Os vilões são esses de antes. Eu tenho muito orgulho do porto estar funcionando, de ter trazido para a economia brasileira, para Santa Catarina, um ativismo portuário. [O senhor já foi superintendente do Porto de Itajaí, quando municipalizado. O que mudou de lá pra cá? Esse modelo não cabe mais?] Eu acho que tudo cabe. Agora, o porto não pode ser objeto de um debate pequeno de natureza política e de polarização. O privilégio de Itajaí, de Santa Catarina, é ter um porto como o Porto de Itajaí que é algo fantástico para a economia. Por que Itajaí é a primeira cidade hoje do ponto de vista do tamanho do PIB? Por conta do porto. Eu tive a honra, junto com a equipe da época, me lembro muito do [Heder] Moritz, do Marcelo Salles, uma equipe maravilhosa que transformou o Porto de Itajaí no segundo porto de maior movimentação de carga de valor agregado do Brasil. Quando vejo essa situação, essa pilhagem criminosa que aconteceu, porque os fatos estão sendo apurados... Por que, de repente, o secretário nacional do governo Bolsonaro aparece em Itajaí para trabalhar com atividade portuária? Isso deve ser apurado, porque cometeram crimes contra a economia e a soberania brasileira. [Qual o objetivo do sucateamento?] Era entregar um patrimônio público de graça, provavelmente para a iniciativa privada, sem critérios.
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"O PT não tem racha. O PT tem uma pluralidade"
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O que podemos esperar do processo de concessão definitivo? É certo que tem tudo pra JBS ser a grande vencedora?
Décio: A gestão é do Ministério dos Portos, é da Antaq, eu faço os acompanhamentos. Hoje o porto tem itajaienses que estão na autarquia, pessoas conhecidas de vocês, e a grande tarefa é criar a entidade pública federal de Itajaí para que não precise mais dos modelos de alfandegamento. Eu estou ajudando naquilo que sou demandado. Eu não posso ficar de braços cruzados e imaginar que o porto possa parar em algum momento.
"Vilões são aqueles que destruíram o Porto, que pilharam o patrimônio público de forma irresponsável, que macularam profundamente a economia da cidade, do estado e do país"
O PT de SC enfrenta segundo turno para a escolha do presidente da sigla. Por que o PT é o único partido que faz a escolha de forma democrática?
Décio: Porque é da natureza dele. No PT, ninguém governa, ninguém administra de forma vertical, de cima para baixo. Eu estou no meu segundo mandato dirigindo o PT de SC, já fui presidente do PT de Itajaí, já fui presidente do PT de Blumenau, mas sempre tem que estabelecer decisões que são horizontais. [Existe hoje um racha no partido?] Nem em Santa Catarina, nem em nenhum lugar. O PT não tem racha. O PT tem uma pluralidade.
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"Eu tenho muito orgulho do porto estar funcionando, de ter trazido para a economia brasileira, para Santa Catarina, um ativismo portuário"
O senhor é presidente nacional do Sebrae. Confirmando-se a tarifação de Donald Trump, como essa taxação sobre os produtos brasileiros vai impactar a economia?
Décio: Eu vou dar aqui alguns números. No ano passado foram criados 1,7 milhão de empregos. Desses empregos, 1,3 milhão são de micro e pequena empresa, mas ao mesmo tempo foram criadas 4,1 milhões novas micro e pequenas empresas. O presidente Lula, quando recebeu o Brasil, nós éramos a 12ª economia do planeta. Nós caminhamos até o final do ano para sermos a 8ª e isso significa um impacto extraordinário. A cada quatro minutos no Brasil abre uma padaria numa periferia. Eu não acho que essas taxações vão trazer impacto para nós. Pelo contrário, os números, cartesianamente, dizem que quem vai perder são os americanos.
"O PT não tem racha. O PT tem uma pluralidade"
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O senhor acredita que a medida foi uma forma de aumentar o valor do dólar em relação ao real? Alguém foi beneficiado com o anúncio do Trump?
Décio: Ninguém. Eu acho que, inclusive, o Trump está fazendo um mal para o país dele. Porque essas atitudes movidas pela passionalidade, pelo destempero, pelo ódio, são efêmeras. [O senhor acompanha a busca por novos parceiros comerciais?] Sim, eu participo, porque nós temos a Apex. Não é só por conta dessas ameaças e desses anúncios de taxação, mas o Brasil se isolou no governo anterior. Hoje nós já estamos com a abertura de mais de 300 mercados novos no mundo.
"O presidente Lula, quando recebeu o Brasil, nós éramos a 12ª economia do planeta. Nós caminhamos até final do ano para sermos a oitava e isso significa um impacto extraordinário"
O senhor afirma que o Sebrae é grande parceiro das prefeituras e dos governos. Como isso ocorre?
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Décio: O Sebrae é uma entidade, na essência, parceira. Nós não protagonizamos nada sozinhos. Nós somos parceiros de cadeias produtivas. Nós estamos, por exemplo, praticamente em todos os municípios brasileiros com um programa chamado Cidade Empreendedora. O Sebrae prepara a criatividade original, que tu sabes fazer muito bem, em qualquer área, inclusive na indústria de transformação, para ser uma empresa que tenha longevidade mesmo sendo pequena e que possa fazer escala. [A marca Sebrae está avaliada em R$ 33,9 bilhões, segundo o Instituto Ipsos. Por que essa valorização?] Esse é o tamanho do Sebrae, porque nós passamos a induzir ainda mais os processos de parcerias com os entes federados, com os governadores, com as prefeituras, com as cadeias produtivas, com os processos associativos. [Como os empreendedores sentem essa valorização?] Eles sentem aquilo que é fundamental, a credibilidade. O Sebrae é a porta dos sonhos de milhões de brasileiros, mas sonhos que se concretizam. O crédito compra financiado, é o crédito da loja, da casa, do carro, tudo é crédito. Só que 88% dos pequenos negócios, que são 95% das empresas, não tinham acesso ao crédito. [Qual o impacto desse crédito aos empreendedores?] O impacto é gigante. Porque a economia tem essa base de crédito. Porque o pequeno vai lá no banco, mas não tem nem avalista e nem garantia. Nós criamos lá no Sebrae um fundo garantidor, que é uma expressão gigante. Eu juntei tudo o que tinha de recurso, colocamos no Fundo, e se você quiser ir ali no banco, o Sebrae é o avalista dele.
"A cada quatro minutos no Brasil abre uma padaria numa periferia"
O Sebrae fez acordo com o Ministério do Meio Ambiente pra garantir que os pequenos negócios sejam sustentáveis. Qual o impacto da medida?
Décio: Os dados que nós temos hoje: 76% das micro e pequenas empresas estão inclusas no mundo digital. Não adianta você abrir um negocinho analógico, não vai sobreviver. Uma economia globalizada, vender lá para fora, fazer criatividade que possa interagir com o mundo e também uma economia que garanta renda. Dentro desses conceitos, o Sebrae tem vários programas. Nós somos o único país do mundo que tem seis biomas. Nós temos um programa específico para os nossos biomas.
"Eu acho que, inclusive, o Trump está fazendo um mal para o país dele"
O presidente Lula esteve em Itajaí e anunciou quase R$ 1 bilhão em recursos. Esse dinheiro já está sendo disponibilizado?
Décio: Com certeza, nós temos acompanhado, nós vamos ter agora as obras estruturantes. Os estaleiros voltaram novamente, porque a indústria naval foi totalmente paralisada com os acontecimentos anteriores que tiveram, principalmente os da Lava Jato. Nós vamos ter investimentos que são fundamentais e estratégicos na operação portuária para que ela possa crescer e receber navios maiores. Isso tudo nós estamos acompanhando de lupa.
"Eu não me vejo fora da luta por um mundo mais justo, uma sociedade fraterna, igualitária"
Como está a sua relação com o governador Jorginho Mello?
Décio: Ele [governador] nunca me procurou, não fala comigo. Eu trouxe aqui já aproximadamente 14 ministros de Estado nesse período, duas vezes o presidente da República e é uma indiferença total. Lamentável! [O governador não conversa nem com o Sebrae?] Não comigo, nunca me procurou. [O senhor é pré-candidato a governador no ano que vem?] Eu acredito que é um processo natural hoje na minha vida. Eu não me vejo fora da luta por um mundo mais justo, uma sociedade fraterna, igualitária. Eu não posso me resignar. Na última eleição eu tive 1,237 milhão de votos. Os catarinenses olharam para mim e me deram essa confiança. Esse patrimônio é um patrimônio rico da vida democrática. Não se trata de querer ser governador; se trata de dizer o seguinte: enquanto o mundo estiver assim eu não posso parar de lutar. [O senador Jorge Seif Júnior falou que o governador Jorginho só perderia a eleição se ele matasse um gato ao vivo numa live...] Eu acho que esse exemplo de matar não é bom. Mas eu acho que eu posso ganhar, se eu salvar o gatinho. Entende? Se eu mostrar a ternura daquilo que eu represento para o povo de Santa Catarina.
"O grande desafio da democracia, que eu enxergo hoje no Brasil, é a renovação geracional"
Itajaí já foi governada pelo PT e teve uma bancada forte na câmara. Na eleição passada, o PT não teve candidato a prefeito e não elegeu um vereador. Foi um erro não lançar candidato a prefeito?
Décio: Não, eu acho que foi decorrência de acontecimentos que a gente não tinha governança. Primeiro que o PT teve aqui um processo que vocês acompanharam. A maior liderança nossa [Volnei Morastoni] saiu do PT e levou uma legião de companheiros. Muitos estão voltando para o nosso ambiente. Nós estamos num processo de recuperação. A democracia é assim. O grande desafio da democracia, que eu enxergo hoje no Brasil, é a renovação geracional. Precisamos ter jovens que venham fazer o processo da disputa política, de uma formatação de causa, que não sejam produtos apenas de uma conjuntura momentânea. [João Paulo pode ser candidato a deputado estadual?] Pode. Por que não? Eu acho que o João Paulo reúne uma biografia. Já foi candidato a prefeito. [Tem sido conversado de ele ser candidato a prefeito?] Nós ainda não fizemos esse tipo de conversa porque a responsabilidade que ele comporta é tão grande, que ela é muito maior do que uma conversa pensando na conjuntura da disputa eleitoral. O João está com o desafio de recuperar o porto, de construir a Docas Municipal para que ele possa ter gestão daquilo, trazer a Marinha Mercante na proporção que dê a ocupação de 100% da atividade portuária. Essa é a tarefa dele.
"Ele [governador] nunca me procurou, não fala comigo. Eu trouxe aqui já aproximadamente 14 ministros de Estado nesse período, duas vezes o presidente da República e é uma indiferença total. Lamentável"
O senhor conversa com o prefeito de Itajaí?
Décio: Eu gostaria que ele me procurasse, como eu gostaria que o governador Jorginho me procurasse. [O senhor poderia procurar o prefeito?] Mas tem a notícia de que eles não querem falar comigo, que não querem nem estar com o Lula. [Poderia fazer um gesto?] O gesto está feito, os convites sempre estão feitos e a gente está com as portas abertas sempre para tratar dos interesses difusos do povo. [O PT não contribuiu pro distanciamento?] Acho que não, porque o PT é aquele que foi humilhado nesse tempo todo. Porque na época do Fernando Henrique Cardoso não tínhamos isso. O PT e o PSDB divergiam, debatiam, mas tinham as regras. Eu lembro que eu convivi muito no Congresso Nacional com Paulo Maluf. [Conviveu com Bolsonaro?] Ele não conseguia relação humana lá dentro nem comigo, nem com ninguém. Quando olhava a gente num café, o Bolsonaro vinha e todo mundo corria. Eu não podia correr, mas a maioria corria. Porque ele vinha com algum tipo de agressão, principalmente contra as mulheres. Eu acho uma coisa muito doentia a forma como ele agia na relação humana.
O presidente Lula é candidato à reeleição?
Décio: Eu torço para o Lula ser candidato. Saímos da 12ª economia, vamos chegar à oitava. Inflação controlada, emprego, estamos chegando à plena empregabilidade. Distribuição da riqueza, aumento de salário. Mudou a vida do povo brasileiro. Impulsionamento dos programas que são da natureza de um Estado social. Esse universo de 4,1 milhões de novas pequenas empresas, a grande maioria saiu do cadastro único, saiu do mapa da fome, do Bolsa Família. Eu acredito que é isso que vai pesar. É isso que o Lula representa.