Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificaram uma nova espécie de peixe, de gênero raro no mundo, sem nadadeira dorsal, na bacia do rio Camboriú. O animal, do grupo Microcambeva, onde estão alguns tipos de bagres, foi batizado de Listrura elongata, sendo a quarta espécie do gênero descrita sem a nadadeira na parte de cima do peixe.
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A descoberta foi no interior de Camboriú, em área de abrangência do projeto Produtor de Água do rio Camboriú, da Emasa, voltado à conservação e recuperação de nascentes. O pequeno peixe vive no fundo ...
A descoberta foi no interior de Camboriú, em área de abrangência do projeto Produtor de Água do rio Camboriú, da Emasa, voltado à conservação e recuperação de nascentes. O pequeno peixe vive no fundo do rio, debaixo de folhas e sedimentos. A falta da nadadeira dorsal seria uma característica evolutiva associada à adaptação para a vida subterrânea nas águas.
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O Listrura elongata tem corpo alongado, ideal para se mover em frestas e galerias no fundo do rio, comportamento que explica sua adaptação para perder a nadadeira dorsal.
O estudo revelou que espécies do gênero Listrura perderam a nadadeira dorsal de forma independente em diferentes ramos evolutivos da família Trichomycteridae, configurando um exemplo notável de evolução paralela. Essa família engloba mais de 40 gêneros e mais de 200 espécies de peixes, conhecidos popularmente como cambevas, peixes-gato ou bagres-moles.
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O pesquisador Caio Feltrin, um dos autores do estudo, detalha a importância da descoberta e ressalta a exclusividade da espécie na bacia do Camboriú. “Essa espécie é realmente uma pérola. Ela foi descoberta primeiro na localidade de Cobra Fria, em um toco de xaxim retido no leito do rio após uma enchente, e depois buscamos outros exemplares nos arredores, mas não encontramos”, comenta.
Ele destacou que a espécie ocorre exclusivamente nos pequenos córregos e riachos das cabeceiras da bacia do rio Camboriú, em ambientes muito específicos e delicados. “Não existe em nenhum outro lugar do mundo. Por isso, ela acaba se tornando um verdadeiro símbolo do trabalho de preservação que o Produtor de Água faz na região, e mostra a importância de proteger esses pequenos cursos d’água”, disse.
A pesquisa foi assinada ainda por Wilson Costa, José Mattos, Paulo Vilardo e Axel Katz, reforçando que a biodiversidade catarinense ainda é pouco conhecida, mas extremamente rica.
Projeto Produtor de Água
Segundo a Emasa, a descoberta evidencia que ações de proteção das matas ciliares, nascentes e pequenos riachos, além de garantir água também preservam espécies únicas que dependem desses ambientes para existir. O diretor-presidente da Emasa, Auri Pavoni, reforça a importância do projeto Produtor de Água para o futuro da região.
“O Produtor de Água do Rio Camboriú não só garante quantidade e qualidade de água para o consumo humano, mas também preserva a vida que existe no rio e ao redor dele. Essa descoberta de um peixe novo mostra que proteger o rio é proteger toda a cadeia de vida que dele depende”, avalia.
O coordenador do projeto, Rafael Camparim dos Santos, frisa o fato de que a nova espécie tenha sido identificada dentro de áreas contempladas pelo programa de Recuperação de Áreas Degradadas (Prad), integradas ao Produtor de Água.
“Isso mostra que os esforços de restauração e proteção dos recursos hídricos também contribuem para a preservação de espécies ainda desconhecidas da nossa biodiversidade”, observa.
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