SANTA CATARINA

UFSC deve derrubar 71 árvores depois de polêmica de padre deputado

Espatódeas são árvores invasoras, têm veneno que mata abelhas e são proibidas por lei desde 2019

Plano prevê a substituição das árvores exóticas por espécies nativas 
(Foto: João Batista)
Plano prevê a substituição das árvores exóticas por espécies nativas (Foto: João Batista)
miniatura galeria
miniatura galeria

O impasse sobre a retirada das espatódeas do campus da UFSC na Trindade, em Florianópolis, foi definido pela instituição que confirmou na semana passada o plano de remoção e substituição de 71 árvores adultas da espécie por árvores nativas. Conhecida como bisnagueira, a árvore tem toxinas que podem matar abelhas e outros pequenos insetos.

A espatódea é comum em espaços públicos e jardins por ser ornamental, mas é uma espécie invasora, vinda da África, com produção e plantio proibidos por lei em Santa Catarina desde 2019 ...

Já tem cadastro? Clique aqui

Quer ler notícias de graça no DIARINHO?
Faça seu cadastro e tenha
10 acessos mensais

Ou assine o DIARINHO agora
e tenha acesso ilimitado!

A espatódea é comum em espaços públicos e jardins por ser ornamental, mas é uma espécie invasora, vinda da África, com produção e plantio proibidos por lei em Santa Catarina desde 2019.

Continua depois da publicidade

A lei também prevê que as árvores existentes sejam cortadas e que mudas sejam descartadas, mas não fixa prazo para remoção, que depende de autorização dos órgãos ambientais.

As medidas visam conter a proliferação da espécie e o desequilíbrio ecológico. Em junho, o Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE-SC) cortou um exemplar da espécie que adornava o pátio do órgão, em cumprimento à legislação. No lugar, seria plantada uma árvore nativa, exigência da legislação quando se trata de locais públicos ou com arborização urbana.

Na UFSC, são 71 bisnagueiras. Elas integram uma lista de 179 árvores exóticas catalogadas no campus pelo Inventário Florístico, da coordenadoria de Gestão Ambiental da universidade. O total de espécies exóticas representa 41% das 5333 árvores já identificadas no campus e devem entrar num futuro plano de remoção e troca por espécies nativas.

A retirada das espatódeas foi cobrada da UFSC pelo deputado estadual Padre Pedro Baldissera (PT). Para ele, o maior risco do “veneno” seria para abelhas nativas, que ficam presas na mucilagem, uma cera liberada pelas flores da bisnagueira. A substância também seria prejudicial para pássaros como os beija-flores, mas, neste caso, especialistas discordam dessa tese.

Em resposta ao deputado, a UFSC disse que, apesar de “algumas” espatódeas já cortadas, a substituição da espécie não estava no “horizonte temporal dos próximos dois anos” e que o trabalho seria feito “de acordo com as restrições de pessoal, tempo e recursos financeiros”. “Seria bom levar em conta as milhares de abelhas, beija-flores e outros insetos inofensivos que morrerão nesses dois anos”, criticou o parlamentar.

Trabalho é complexo, demorado e custará “soma relevante”, diz UFSC

Após a repercussã  a UFSC informou que pediu autorização à Fundação do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram) para remoção das espatódeas. A universidade disse entender a importância da substituição e do correto manejo da espécie para a preservação do meio ambiente, mas frisou que esse tipo de trabalho é complexo, demorado e exigirá gasto de “soma relevante”.

“Após a autorização da Floram, a universidade deverá realizar uma licitação para contratar empresa especializada na remoção das árvores, pois muitos exemplares são de grande porte. A depender do órgão, a compensação ambiental pode determinar o replantio de uma ou mais mudas para cada exemplar retirado. Esse replantio precisa ser planejado antes do corte”, informou.

Continua depois da publicidade

No momento, a UFSC diz que trabalha na aprovação, junto ao Instituto do Meio Ambiente (Ima), de projeto de recuperação que já prevê a revegetação com árvores nativas no campus. A retirada de todas as espécies exóticas espera pela atualização do Inventário Florístico. “Com o inventário pronto, a universidade passará a elaborar o plano de manejo, que envolve o plantio de espécies nativas”, conclui.

 

Abelhas são maiores vítimas mas para beija-flores não há risco

Continua depois da publicidade

Árvore é comum em espaços públicos e jardins por ser ornamental (foto: divulgação)
Árvore é comum em espaços públicos e jardins por ser ornamental (foto: divulgação)

 

A espatódea se proliferou no Brasil por se adaptar bem ao clima tropical. As toxinas nas flores são parecidas com a cocaína e cafeína e podem ser prejudiciais para seres humanos, se ingeridas ou inaladas. Mas insetos, especialmente as abelhas, são as principais vítimas.

“Todas as pesquisas indicam potencial tóxico de algumas substâncias presentes nas flores, como a cera que se adere às patas das abelhas, entre outros problemas”, comenta o técnico agrícola e gestor ambiental Heli Schlickmann.

Continua depois da publicidade

O biólogo Luís Funez, botânico do herbário Barbosa Rodrigues, de Itajaí, informa que a árvore se espalhou no mundo pelo comércio de espécies ornamentais.

Em alguns lugares, como na Austrália, a espécie virou um problema ecológico grave. Na América do Sul, Luís ressalta que a planta não é polinizada com frequência e a frutificação, em geral, é muito baixa. “Felizmente, não temos bons polinizadores para essa árvore por aqui, uma vez que os beija-flores, embora consumam o néctar das flores, o obtém por pilhagem, e não pela frente da flor, de forma a não tocar as partes reprodutivas”, explica.

Ainda sobre o impacto aos pássaros, ele afirma que, aparentemente, as toxinas da árvore não oferecem risco. “Não encontrei nenhum estudo que relacionasse mortalidade de aves com a visitação às plantas. Inclusive, há estudos que acompanham a sazonalidade de visitas desses pássaros às flores [de espatódea] por períodos, mostrando que eles, embora consumam seu néctar, não se intoxicam”, disse.

 

Impacto ecológico

Para os insetos, a situação é diferente. Segundo o botânico Luís Funez, estudos mostraram grande mortalidade de insetos nas flores, tanto nas observações em campo, quanto em experiências de laboratório, onde morreram quase todas as abelhas colocadas em contato com o néctar. Em campo, os insetos mortos eram quase todos abelhas nativas sem ferrão.

Luís alerta para o dano ao ecossistema, frisando a função polinizadora das abelhas. Por isso, ele defende que espatódeas sejam eliminadas das ruas e das casas.

A árvore não é comum na arborização urbana, mas costuma ser plantada em quintais. “Já passou da hora de a legislação apertar o cerco contra esse comércio desenfreado de espécies exóticas invasoras pelo ramo da ornamentação e paisagismo”, opina. Em BC, Luís relata que há bastante dessas árvores, como na rua 1131, no centro.

Em Itajaí, o Instituto Itajaí Sustentável diz que já recebeu pedido de corte de espatódea por estar atrapalhando algo. “Não há um levantamento em relação aos cortes feitos. Árvores dessa espécie não são incluídas no processo de arborização, justamente por essa proibição”, informa.






Conteúdo Patrocinado



Comentários:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Clique aqui para fazer o seu cadastro.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

WhatsAPP DIARINHO

Envie seu recado

Através deste formuário, você pode entrar em contato com a redação do DIARINHO.

×






216.73.216.2


TV DIARINHO


Bene Sobrinho, presidente e um dos fundadores do Barra Futebol Clube, participou do programa Diz Aí!, ...



Especiais

COP30 escancara crise de moradia, energia e água em Belém

CRISE NA MORADIA

COP30 escancara crise de moradia, energia e água em Belém

Entidades vão levar a Lula proposta de Comissão Indígena da Verdade de crimes da ditadura

CRIMES DA DITADURA

Entidades vão levar a Lula proposta de Comissão Indígena da Verdade de crimes da ditadura

MTE perde 19 coordenadores e haverá reação se JBS não entrar na lista do trabalho escravo

Ministro do Trabalho e do Emprego

MTE perde 19 coordenadores e haverá reação se JBS não entrar na lista do trabalho escravo

Gilmar Mendes vira principal alvo de Paulo Figueiredo para Magnitsky nos EUA

Lei Magnitsky

Gilmar Mendes vira principal alvo de Paulo Figueiredo para Magnitsky nos EUA

Amazônia enfrenta escalada inédita de temperaturas extremas em áreas ainda preservadas

NATUREZA

Amazônia enfrenta escalada inédita de temperaturas extremas em áreas ainda preservadas



Blogs

 VOLTA DOS CAFÉS

Blog do Magru

VOLTA DOS CAFÉS

ONDM

Blog da Jackie

ONDM

Ponte...

Blog do JC

Ponte...



Diz aí

"Nosso projeto é de clube formador, de dar oportunidades aos jovens talentos"

Diz aí, Bene!

"Nosso projeto é de clube formador, de dar oportunidades aos jovens talentos"

“O gargalo que a gente enfrenta é a mão de obra e a qualificação da mão de obra”

Diz aí, Thaisa!

“O gargalo que a gente enfrenta é a mão de obra e a qualificação da mão de obra”

"Comprem em Camboriú porque vai valorizar. Camboriú é a bola da vez"

Diz aí, Pavan!

"Comprem em Camboriú porque vai valorizar. Camboriú é a bola da vez"

"Não pense que eu vou ficar os quatro anos fora da Câmara"

Diz aí, Anna Carolina!

"Não pense que eu vou ficar os quatro anos fora da Câmara"

"Na minha chapa, os candidatos ao Senado vão ser de Santa Catarina"

Diz aí, João Rodrigues!

"Na minha chapa, os candidatos ao Senado vão ser de Santa Catarina"



Hoje nas bancas

Capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.