Casos e ocasos
Por Rosan da Rocha - rrocharrosan@gmail.com
Rosan da Rocha é catarinense, manezinho, deísta, advogado, professor e promotor de Justiça aposentado. Sem preconceitos, é amante da natureza e segue aprendendo e conhecendo melhor o ser humano
Santa Catarina não é puxadinho do Rio: a tentativa da família Bolsonaro de controlar o Senado catarinense
Santa Catarina possui três vagas no Senado Federal. Atualmente, representam o estado os senadores Esperidião Amin (PP), Jorge Seif (PL) e Ivete da Silveira (MDB).
Nas eleições do próximo ano, duas vagas estarão em disputa, com a saída de Amin e Ivete. Amin pretende concorrer novamente, enquanto Ivete — suplente de Jorginho Mello, que assumiu o Senado após a renúncia dele para disputar o Governo do Estado — não pretende se candidatar.
A disputa já se mostra acirrada dentro da extrema direita bolsonarista, marcada por trocas de farpas entre políticos do mesmo partido. Isso porque o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu que seu filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, fosse um dos candidatos por Santa Catarina. O pedido foi aceito e apoiado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e pelo governador Jorginho Mello.
A outra vaga deve contar com o apoio já declarado desses mesmos líderes do PL à reeleição de Esperidião Amin, deixando de lado a deputada federal Caroline De Toni (PL).
A população catarinense não pode aceitar essa imposição da família Bolsonaro, sob pena de passar um atestado de subserviência política. O estado possui lideranças com profundo conhecimento do seu território, do seu povo e das reais necessidades para continuar crescendo economicamente e, sobretudo, avançar em justiça social.
Já temos um senador vindo do Rio de Janeiro: Jorge Seif. Bolsonarista de primeira linha e ex-secretário da Pesca no governo Bolsonaro, foi apoiado pelo ex-presidente para o Senado. Infelizmente, sua atuação parlamentar tem sido desastrosa, voltada apenas à defesa da anistia e à obediência cega ao ex-presidente, conforme ele próprio declarou.
Recentemente, ao defender o pedido de Bolsonaro para apoiar seu filho, Seif subiu à tribuna do Senado para atacar colegas de partido e outros bolsonaristas que não seguiram a “ordem do líder”. Em tom grosseiro, dirigiu-se a uma deputada estadual do próprio PL que se recusou a apoiar Carlos Bolsonaro, afirmando que ela “só se elegeu graças ao Bolsonaro” e que “não era nada, apenas professora”, menosprezando a nobre profissão de ensinar. É lamentável ver um representante de Santa Catarina agir com tamanha subserviência e desequilíbrio.
A deputada Caroline De Toni já afirmou que pretende concorrer ao Senado, mesmo que, para isso, tenha de mudar de partido. O próprio governador Jorginho Mello declarou que “não há mais espaço para ela no PL”. Fica evidente, portanto, que a extrema direita bolsonarista tem um único objetivo: favorecer a família Bolsonaro, mesmo que isso signifique trair e desprezar políticos do próprio partido e do estado.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, que atualmente está nos Estados Unidos, já usou as redes sociais para pedir apoio à candidatura do irmão Carlos.
É triste e decepcionante ver um estado que sempre teve políticos altivos e comprometidos com o povo catarinense ser reduzido a servir de trampolim político a uma família do Rio de Janeiro — envolvida em inúmeros problemas com a Justiça e a Polícia, e cujo patriarca foi condenado por atentar contra a democracia brasileira.
A família Bolsonaro busca o poder político a qualquer custo. Eduardo já afirmou que, caso o pai não seja candidato à Presidência, ele próprio será. Flávio Bolsonaro já é senador; Carlos e Michelle Bolsonaro também querem o Senado; e o caçula, Jair Renan, atualmente vereador em Balneário Camboriú, pretende disputar uma vaga de deputado federal por Santa Catarina. Tudo isso com o objetivo de escapar da Justiça, garantindo foro privilegiado, já que todos possuem investigações ou processos em andamento.
Diversas entidades e lideranças já se manifestaram contra a candidatura de Carlos Bolsonaro, incluindo a Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), além de analistas políticos, prefeitos e parlamentares de diferentes partidos.
É fundamental que a sociedade catarinense se mobilize em defesa da autonomia política do estado, para que Santa Catarina não se torne um “puxadinho” do Rio de Janeiro. Contudo, as notícias não são animadoras: pesquisas de intenção de voto já apontam Carlos Bolsonaro como favorito a uma das vagas no Senado.
Santa Catarina enfrenta graves problemas internos: 28 prefeitos foram presos por corrupção nos últimos quatro anos, a maioria deles bolsonaristas. O estado é o que mais abriga grupos neonazistas no país, com crescimento alarmante; ocupa a 6ª posição nacional em denúncias de estupro de vulneráveis; e tem 5,3 milhões de pessoas sem acesso à rede de esgoto, sendo o pior da Região Sul e um dos piores do Brasil.
Entregar as duas vagas do Senado a forasteiros ou a políticos profissionais e oportunistas é condenar o estado à falta de representação real, incapaz de enfrentar as mazelas que impedem o crescimento socioeconômico e a justiça social que o povo catarinense tanto merece.
