Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Anos cinquenta
Ano de 1956. O ginásio Itajaí foi adquirido pelos padres salesianos e nós iniciávamos aí nossa formação como cidadãos: foi um ano pré-ginasial e quatro de ginásio, até 1960. Não cursamos a quarta série do primário; foi nos dado um curso de Admissão ao Ginásio, severíssimo, disputado pelo pessoal de outras escolas da cidade. Um calhamaço que continha as quatro matérias básicas: Português, Matemática, História e Geografia.
Exatamente neste ano, Paulo Bauer inaugurou a Rodoviária de Itajaí. Ficava na Praça do Mercado, no prédio que hoje abriga o Centro de Abastecimento. Na praça, um conjunto de três prédios: o Mercado Municipal, a Banca de peixe bem junto ao rio, onde hoje é o prédio da Comard, e anova e imponente Estação Rodoviária. Esta, em forma de “H”, tinha a ala voltada para a rua utilizada pelas agências de ônibus. Na parte central, o Restaurante, administrado pelo seu Osvaldo Campos. Caprichoso, ele mantinha dois belos jardins na partes laterais com árvores, flores, laguinho, marrequinhas e araras. A ala voltada para o rio, não me lembro de outro uso senão da Academia do Deda, por muitos anos. Este, figura conhecida na praça, mantinha ali um academia de ginástica, sauna, ensino de boxe e de outras lutas da época. Até a mudança dos ônibus para o prédio da Vila Operária em 1975, hoje desativado, esta situação se manteve. Nesta época quando só se entrava e saia de Itajaí pela rua Sete de Setembro, rua Brusque e rua Blumenau, a situação da Rodoviária era muito boa. Os ônibus da Catarinense, Brusquense, Rápido Cometa e do seu Lima faziam o transporte intermunicipal. No outro lado da rua começavam a surgir os hotéis de segunda categoria e os botecos, sempre presente neste tipo de região urbana, para atendimento aos viajantes e aos eventuais amantes de um bom trago. Havia os beberrões costumazes, conhecidos na cidade como os “elefantes do mercado”.
O prédio do Mercado Municipal, inaugurado por Marcos Konder, em 1917, foi após um incêndio, remodelado por Arno Bauer em 1936. Lá se compravam gaiolas, passarinhos, cordas, material para pesca, balaios e cestos de palhas, louças de barro, material para fabricarmos as pandorgas e outras miudezas comercializadas pela lojinhas em torno do pátio central. Neste, um chafariz de autoria do Sr. Luiz Collares. Além disso, lá se localizava algo bem típico: “O Rei do peixe frito”, de frequência nem sempre recomendada mas que acabou sendo um ponto folclórico da nossa “cultura-do-peixe”. No meio de tantas mudanças quase sempre catastróficas em nome de “progresso e modernidade”, este Mercado, a cidade, felizmente, teve o bom senso de preservar e reativá-lo.