Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
Medo e sociedade
O medo é um fenômeno marcante em nossos cotidianos. E no período contemporâneo assume o papel de orientador das interações sociais. Interagir, hoje, sem medo é quase uma impossibilidade. As notícias que nos chegam pela TV, jornais, rádios, redes sociais estão sobrecarregadas de desastres humanos [guerras e conflitos armados sem fim], ameaças incontidas [armas nucleares, invasão de vida privada, desvios governamentais etc.] doenças e surtos virais pandêmicos [Gripes de todos os tipos, COVIDs], desastres sociais de origem ambiental [chuvas devastadoras, terremotos, secas, calor-frios excessivos], atentados e operações de guerrilhas em favelas, tiroteios e vidas perdidas por armas traficadas.
O medo, como parâmetro biológico, pode servir como ato de defesa diante de perigo extremo, como uma reação emocional de impulso primitivo. Gera contra-ataques instintivos e percorre trajetórias de defesa da própria vida ou da vida de semelhantes. É assim também com os animais. O coração acelera, a adrenalina ilumina vasos sanguíneos dilatados, olhos arregalados em alerta, voz efusiva... E a desorganização psíquica como aprendizado para se viver em ambientes de hostilidades ou em uma sociedade de mal-estar insanável, insano, sem ser sã.
Essa Sociedade do Medo e do Mal-Estar provoca stress continuado, depressão, ambivalências comportamentais, e derivados psicossomáticos de toda “ordem”. Uma sociedade que convive no estojo da cultura da violência passa a gerar na caminhada, em cada passo que se dá, apelos de “insegurança-existencial” ou ontológico [Bauman], atravessada por circuitos de medo coletivo e fragilidades individuais de conviver em grupo.
O medo em caráter social gera, primeiro, o isolamento, a autorreclusão, a procura de um esconderijo cavernoso. E a mais “valorosa caverna” ao isolamento está nas redes virtuais. Nada ali precisa ser concreto, e tudo pode se diluir como imagens que se evaporam depois de atravessar as mentes dos usuários. Mas há fenômenos que não podem ser resolvidos pela “vida” virtual. Ao sofrimento de ataques a escolas e creches, por exemplo, o medo e a incapacidade de enfrentamento causam primeiro a suspensão do cotidiano e a reclusão em casa como blindagem. A vida ajustada para se defender dos outros, como dirigir um carro blindado.
Depois vêm as medidas de reorganização da vida em grupo: políticas de segurança são exigidas. Para alguns é com uma arma nas mãos que se enfrenta o próprio medo. Ódio por ódio, olho por olho. Basta ter uma arma nas mãos para se obter a solução dos conflitos que não possuem políticas públicas para enfrentamento. Sai o governo e entra o indivíduo armado.
Outras medidas de políticas públicas têm efeitos psicanalíticos. Colocar um guarda ou vigilante em uma escola é uma fonte de segurança para as pessoas que não tem intenção de atacar os outros. Se qualquer coisa der errada o Guarda-Vigilante estará ali para, por sua função empregatícia e sua responsabilidade social, protegê-las e defendê-las. Para os que tem interesse em atitudes marginais ao comportamento assumido como adequado, o Guarda-Vigilante é uma barreira. Os sistemas de vigilância eletrônica se tornam necessários para que cada pessoa de intenções marginais se sinta vulnerável pela sensação de que estão sendo vigiadas. Sentir-se vasculhada em suas ações é o primeiro efeito psicológico desejado [vigilância ontológica].
Mas pelo tamanho do medo que temos, o alcance das políticas públicas não sairá de uma arma e nem os vigilantes, e nem sistemas eletrônicos poderão resolver todo o problema. Uma sociedade de paz se faz pela Educação. Por longo Prazo. A Paz se dá por outros caminhos, cheios de curvas, de trajetória longa! A Paz não virá pelo Correio. Os heróis, pequeninos, estão e estarão nas escolas.