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“Quem é burro, vai pra Barra”
O estabelecimento dos primeiros moradores na foz do rio Camboriú se deu mais ou menos na mesma época em que se estabeleciam aqueles que vieram morar, por primeiro, aqui na foz do rio Itajaí-açu: fins do século XVIII, início do século XIX. A freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Camboriú, sediada na Barra de Camboriú, na margem direita do rio Camboriú, foi criada em 1849 e o município de Camboriú, também com sede no mesmo lugar, instalou-se em 1884.
A Barra de Camboriú tinha um bom porto que atendia bem aos padrões das embarcações da época. Segundo o historiador Isaque de Borba Corrêa, autor do apreciado livro “Camboriú & Balneário – A História de Duas Cidades”, o período áureo do porto vai de 1850 a 1925, quando por falta de dragagem e manutenção se tornou impraticável seu uso. Nele, embarcações do tipo escuna, brigue, patacho e bergantim, de até 189 toneladas, carregavam produtos de que o município mais produzia: farinha de mandioca, café, banana, madeira.
Mas a Barra de Camboriú, por ficar entre o rio e a montanha, não oferecia suficiente área para se expandir e para a agricultura. Já em meados do século XIX, Tomás Francisco Garcia se estabeleceu rio acima e com ele outros moradores, dando origem ao arraial dos Garcia. Nesse lugar, já no final do Império, foi construída a Capela do Divino Espírito Santo e a Arraial dos Garcia começou a rivalizar com a Barra, visto que tinha mais proximidade com o interior do município e possibilidades maiores de crescimento.
No ano de 1890, a sede do município de Camboriú foi transferida da Barra para o Arraial dos Garcia, travando-se duríssima disputa política entre as duas localidades, que dividiu a opinião de líderes e do povo na época. Tanto que a sede da paróquia continuou sendo a Barra de Camboriú por muitos anos ainda.
Então, quando o governo de Santa Catarina mandou construir a estrada entre Florianópolis e Itajaí, o traçado depois de descer o Morro do Encano, atravessava a Vila de Camboriú, ia até a Praia de Camboriú e dali, pela Praia Brava e subindo o Morro Cortado, chegava aqui.
Mas os viajantes que iam para a Capital, ao atravessar o rio Camboriú, dobravam à esquerda em frente à Matriz do Divino Espírito Santo e logo adiante davam com a encruzilhada da dúvida. Seguir em frente ou dobrar à direita? Então, quase todos entravam na venda de Manoel Felício, chamado pelo povo de Mané Feliço, e lhe indagavam a direção certa. Ele respondia solícito: “- Para a Capital, camba à direita. Em frente, se vai para a Barra.” Mas, depois de tanto falar, resolveu escrever numa tabuleta a direção certa para Florianópolis. E a colocou na esquina, à vista de todos. No entanto, desavisados e distraídos, continuavam a entrar na venda a indagar de Manoel Felício qual o caminho certo para a Capital. Era quando ele mandava ler a tabuleta e completava: - “Quem é burro, vai pra Barra!”