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Um espelho que é o espelho de nossa sociedade
Passando pela rua João Bauer, em pleno centro urbano da cidade de Itajaí, deparo-me com um móvel espelhado descartado no passeio público. Um atentado à segurança dos pedestres, notadamente das crianças e idosos. Quem reside na área central da cidade, suponho, tem condições financeiras privilegiadas e, por consequência, possibilidades educacionais diferenciadas na família, no ambiente social e na escola. Mas, nada disso foi suficiente para o proprietário do espelho pensar sobre o seu descarte, dando-lhe um destino mais compatível com o interesse público. Pior é saber que o proprietário rico, de família escolarizada, não consegue se ver naquele espelho quebrado que abandonou na calçada da via pública. Quando olha para ele, provavelmente, vê refletida a imagem de um político – a quem atribui a culpa de tudo que está errado em nossa cidade. Por coincidência, ainda recentemente, li reportagem na imprensa local anunciando que a prefeitura do município de Itajaí decretou estado de emergência por causa da dengue e, para combater os focos de proliferação do mosquito transmissor da doença recolheu 800 toneladas de entulho espalhadas pela cidade. Isso mesmo, o povo deseducado livrou-se de objetos indesejados jogando-os em locais públicos ou terrenos particulares baldios. O resto, segundo a mentalidade de nossa gente, é problema desses péssimos administradores públicos. Essa é a cultura de nossa gente - do centro e da periferia, rica e pobre, letrada e analfabeta –, a culpa é sempre do administrador público e o espelho sempre lhe apresenta a face de um culpado que não é o próprio agente do ato infrator. O outro, o município, o estado, a união... Bem, essas são os culpados e o rosto refletido no espelho quebrado será sempre o rosto do prefeito, governador, presidente, vereador, deputado. Nunca o rosto do ignorante que jogou o utensílio no passeio público. Agora mesmo, leio no nosso DIARINHO que o condomínio de um prédio, localizado no centro de Balneário Camboriú, foi multado pela prefeitura porque estava jogando esgoto doméstico direto no ribeirão que deságua na praia utilizando duto clandestino que desviava do sistema de tratamento de resíduos montado pelo poder público para melhorar a condição de balneabilidade da Praia Central. Pedir bom senso para o ser humano é ingenuidade. Algumas pessoas não têm a capacidade de se colocar no lugar do outro e, por incrível que pareça, mesmo diante do espelho não consegue se ver como ator social, aquele que está fazendo o mal do qual ele próprio está padecendo. O problema é sempre e invariavelmente o outro.