CRIME ORGANIZADO
Facção do RS usava imóveis no litoral para lavar dinheiro do tráfico
Pousada em Porto Belo e casa de luxo em Camboriú estão entre os bens sequestrados pela Polícia Civil
Camila Diel [gomescamila18@gmail.com]

Uma facção criminosa da zona sul de Porto Alegre está na mira da Polícia Civil por lavar dinheiro do tráfico de drogas por meio de imóveis e negócios no litoral de Santa Catarina.
A investigação revelou que parte do dinheiro sujo era investida em pousadas, casas de luxo, lanchas e até empresas em Porto Belo, Camboriú e Palhoça.
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As descobertas fazem parte da Operação Costa Nostra, deflagrada na quinta com 143 ordens judiciais cumpridas entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em SC, foram cumpridos mandados de busca, apreensão e sequestro de bens nas três cidades. Houve apreensão de veículos, documentos e um fuzil.
Entre os bens localizados está uma pousada de alto padrão na praia do Caixa d’Aço, em Porto Belo, avaliada em R$ 5 milhões. O local estava em reforma e funcionava como atrativo turístico. Outro imóvel, avaliado em R$ 3 milhões, foi localizado em Camboriú, usado como endereço de um dos investigados. Também foi identificada uma empresa que, segundo a polícia, seria usada para movimentar o dinheiro da facção.
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O delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, da delegacia de repressão ao crime de lavagem de dinheiro, afirmou que a organização atua em SC há pelo menos três anos. “Chama atenção o foco no setor de turismo, com pousadas, lanchas e jet-skis. Eles não apenas vivem nesses locais, mas investem para movimentar o dinheiro ilícito”, afirmou.
A facção é apontada como uma das responsáveis pelo tráfico em bairros da zona sul de Porto Alegre e agora sofre o que a polícia chama de “golpe no caixa”. O objetivo é descapitalizar o bando, impedindo que os lucros do crime sejam usados para financiar homicídios e outros delitos.
Além dos imóveis, foram apreendidos veículos como EcoSport, Tracker, motos e uma lancha. Também foram feitos bloqueios bancários e quebra de sigilo fiscal e financeiro. A estimativa é de que o grupo tenha acumulado cerca de R$ 12 milhões em patrimônio.
A investigação começou após uma tentativa de homicídio há dois anos. Um dos líderes da facção, que já cumpriu pena em penitenciária federal, teria ordenado a execução de um integrante do próprio grupo. A vítima foi sequestrada, baleada e conseguiu sobreviver. A partir desse caso, os investigadores passaram a monitorar os envolvidos e mapear os bens adquiridos com dinheiro ilegal.
De acordo com a polícia, a ação faz parte de uma estratégia nacional de enfrentamento às execuções promovidas por facções, baseada na teoria da “dissuasão focada”. A ideia é sufocar o financiamento das ações criminosas, atacando o patrimônio dos líderes.
“A repressão ao crime de lavagem de dinheiro visa enfraquecer o poder financeiro dos grupos criminosos. Sem esse capital fica mais difícil manter a estrutura do tráfico e das ordens de assassinato”, afirmou o diretor da DHPP(RS), delegado Mario Souza.