É CRIME
Quem perturbar a mãe e o filhote de elefante marinho em praia de SC pode ser preso
Desrespeito em área de nascimento pode comprometer a sobrevivência do elefantinho
João Batista [editores@diarinho.com.br]
Uma força-tarefa com órgãos públicos e ambientais foi montada para garantir a proteção à fêmea de elefante marinho e ao filhote dela, nascido na sexta-feira passada, na praia do Siriú, em Garopaba, em ocorrência inédita no Brasil. A operação foi montada após desrespeito ao isolamento da área, inclusive com motos passando ao lado dos animais, o que perturba a mãe e pode prejudicar a vida do filhote.
Foi até publicado um comunicado, alertando que as pessoas podem ser presas por desrespeitar a barreira de isolamento e molestar animais selvagens.
Após o nascimento, o bebê-elefante depende da amamentação pra sobreviver. Normalmente, a mãe amamenta o filhote por cerca de 20 dias, período em que ela precisa ficar sossegada e em segurança para cuidar do recém-nascido. A orientação dos órgãos ambientais era pra que as pessoas mantivessem uma distância de ao menos 50 metros dos animais, evitando estressá-los com barulho ou simples presença.
De acordo com o Instituto Australis, responsável pelo Projeto de Monitoramento de Praias na região, diversas situações de aproximação e desrespeito já foram denunciados. Imagens que circulam nas redes sociais mostram pessoas perturbando os animais. Entre elas, uma dupla de motos circulando na praia, que passa ao lado da mãe e do filhote de elefante marinho.
“O grupo formado para a força-tarefa vai reforçar a área de isolamento da mãe e filhote, além de criar um grupo de escala de monitoramento e fiscalização envolvendo as equipes, voluntários e agentes locais”, informou o instituto.
Não pode moto na praia
“Reforçamos que circular de moto ou carro na praia é proibido por lei e pode estressar e alterar o comportamento da mãe. Molestar animais selvagens é crime de acordo com a lei 9.605/98”, ressalta o aviso. De acordo com o instituto, o respeito ao limite de aproximação pode garantir a sobrevivência dos animais, que devem ficar no local até o desmame do filhote, no início de novembro.
A força-tarefa, criada na segunda-feira, é formada por órgãos ambientais e de fiscalização e entidades da sociedade civil organizada, envolvendo Polícia Ambiental, ICMBio, Ibama e prefeitura de Garopaba junto ao Instituto Australis, LabZoo/Udesc e projeto Cetáceos. A equipe de monitoramento segue acompanhando a situação da mãe e do filhote, que tem sido visto mamando diversas vezes.
Operação especial para registro inédito no Brasil
O nascimento de um elefante-marinho é inédito no Brasil, por isso a ocorrência tem chamado ainda mais a atenção, exigindo uma ação coordenada de monitoramento e restrição de acesso ao local. O caso é acompanhado pelas equipes que atuam no protocolo de mamíferos marinhos da Área da Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF).
O chefe da entidade, Stéphano Diniz, reforça que as comunidades locais se atentem à necessidade de não importunar as espécies selvagens. “É importante manter distância, evitar a aglomeração de pessoas, som alto e a aproximação de cachorros”, detalha. A bióloga do Instituto Australis, Thaise Albernaz, explica que o motivo das orientações e restrições é a sobrevivência do filhote.
“Pelo comportamento natural dessa espécie, é esperado que a fêmea fique em torno de 20 dias amamentando exclusivamente o seu filhote. No entanto, se ela ficar estressada ou se sentir ameaçada, pode acabar abandonando o filhote. Por isso é tão importante respeitar as barreiras de contenção, para que a mãe não se estresse com a quantidade de pessoas que ficam ao redor”, informa.
Mãe assustada com intrusos
Um vídeo feito pela estudante de biomedicina Milena Lima foi compartilhado na segunda-feira pelo engenheiro ambiental e sanitarista Victor Machado, de Garopaba. As imagens flagraram dois motociclistas “passeando” na praia, desrespeitando a área de isolamento e passando ao lado dos animais.
“Infelizmente, a mamãe elefante-marinho e seu filhote, o primeiro nascido no Brasil, em Garopaba – SC, estão sendo perturbados de diversas maneiras. Não adianta ter consciência e não ter educação. E se fosse com o seu filho?”, questionou Victor em postagem.
Pelo vídeo, é possível ver a mãe elefanta urrando e assustada junto ao filho após a passagem das motos barulhentas. “Olha o estresse que ele gerou nos bichos. Que otário... O bicho ficou desesperado, cara”, comenta Milena na filmagem.
Em monitoramento com drone, Victor informou que fez uma avaliação para obter as medidas dos animais. A mãe teria 2,65 metros e o filhote, 1,47 metro. “Trata-se do primeiro registro de nascimento dessa espécie (elefante-marinho do sul) no Brasil, o que levanta diversas dúvidas sobre a motivação do evento inédito, que pode estar relacionada às mudanças climáticas”, opina.
Ele lembra que, no ano passado, 95% dos filhotes da espécie morreram por conta do vírus da gripe aviária na costa marítima da Argentina, considerada berçário dos animais. “É muito importante que se respeite esse momento para a vida como um todo. Não se aproxime dos animais, respeite a natureza”, apelou.