O boletim da Diretoria de Vigilância Epidemiológica com dados até 22 de abril, aponta um crescimento de 135% no número de casos prováveis em 2024 na comparação com o mesmo período do ano passado. Os casos de dengue tipo 1 são predominantes. Do último boletim até o dia 25 de abril, foram registrados mais 10.865 casos prováveis e outras cinco mortes, que ainda vão constar no próximo levantamento.
As cidades de Itajaí (23), Joinville (23) e Blumenau (13) são as que têm a maioria das mortes por dengue em SC, que ainda investiga outras 34 mortes. Em nota no dia 18 de abril, a Secretaria de Estado da Saúde informava que o estado recebeu duas remessas da vacina contra a dengue, mas apenas cidades da região de Joinville e Florianópolis receberam as doses, ainda restritas pra menores de 10 a 14 anos.
Medidas preventivas contra a doença e a proliferação do mosquito são reforçadas pelos órgãos de saúde. O número de focos chegou a 34.135 até o dia 25 de abril, quase 3 mil deles na região da Amfri. Das 295 cidades de SC, 161 estão infestadas pelo mosquito.
Mais de 6800 casos em Itajaí
A prefeitura de Itajaí contabilizava 6831 casos confirmados de dengue, com 23 mortes, e 21.512 casos prováveis da doença até às 10h05 do dia 24 de abril. Outras quatro mortes estavam sob investigação. Os casos se concentram nos bairros Cordeiros, Murta, Cidade Nova, São Vicente e Barra do Rio.
No dia 17 de abril, o município completou um mês de funcionamento da Vila da Saúde, instalada no estacionamento do Centro Integrado de Saúde (CIS) para atender pacientes com sintomas suspeitos de dengue. No período, o serviço fez 16.584 atendimentos. A estrutura funciona 24 horas e deve ficar ativa por 90 dias, aliviando a demanda nos postinhos e UPAs.
No combate aos focos do mosquito da dengue na cidade, a prefeitura tem reforçado as ações de limpeza de terrenos, inclusive com a entrada forçada em imóveis. Na última ação, mais de cinco caminhões de lixo foram retirados de imóveis nos bairros São Judas e São Vicente. Em um dos endereços havia materiais descartados por terceiros com água parada e larvas do mosquito. No outro imóvel, a moradora era uma acumuladora compulsiva e foi atendida pela assistência social.
“O acúmulo de materiais aumenta gravemente as chances de proliferação do mosquito transmissor da dengue e pode pôr em risco toda a comunidade no entorno. Precisamos conscientizar a todos da necessidade de combater o Aedes aegypti. O esforço tem que ser coletivo”, destaca Lúcio Vieira, coordenador do Programa de Controle da Dengue em Itajaí.
No dia 22 de abril, Itajaí recebeu a segunda etapa da operação Limpa Pátios, do Detran, pra retirada de veículos apreendidos. A ação ocorreu no pátio do bairro Itaipava pra eliminar possíveis focos do mosquito da dengue. Cerca de dois mil veículos seriam recolhidos pra virar sucata.
Na primeira fase da operação, 1480 veículos do pátio da Codetran no bairro Cordeiros já tinham sido amassados.
Navegantes teve três mortes
Segundo o boletim semanal da Vigilância Epidemiológica de Navegantes, até o dia 19 de abril o munícipio somava 5905 notificações de dengue neste ano, com 1982 casos positivos, 1702 prováveis e 2221 descartados. A cidade registra três mortes decorrentes da doença e tem outros três óbitos em investigação.
Os bairros e localidades com mais casos positivos são o centro (848), Gravatá (358) e São Paulo (131). A prefeitura tem realizado ações de combate com mutirões, fumacê e medidas de conscientização. Em abril, o carro do fumacê, com inseticida contra o mosquito, passou por ruas do Gravatá, Meia Praia e centro.
Os agentes de saúde também estão fazendo campanhas nas escolas das redes municipal e estadual. As atividades com os estudantes ensinam a identificar criadouros do mosquito, a importância do uso de repelentes, conhecer os sintomas da dengue e perceber quando e como procurar atendimento médico.
Mais de 7300 casos investigados em Balneário Camboriú
Até o dia 19 de abril, a prefeitura registrava um total de 2966 casos confirmados e outros 7381 casos suspeitos de dengue em 2024, além de mais de mil exames aguardando o resultado. Dos casos positivos, 2833 foram contraídos na própria cidade. O centro é a região com mais casos confirmados: 1194.
Balneário Camboriú confirmou dois óbitos por dengue, ocorridos em 24 de março – uma mulher de 87 anos e, em 12 de abril, de um homem de 73 anos. Outras duas mortes estão em investigação. As duas vítimas tinham comorbidades e estavam hospitalizadas.
Os casos suspeitos da doença estão sendo atendidos no Centro de Referência Municipal de Atendimento à Dengue, que funciona junto ao antigo pronto-socorro do hospital Ruth Cardoso. O local abre de segunda a sexta-feira, das 7h às 23h, e aos sábados, das 7h às 19h, exclusivo para moradores com cadastro ativo na rede de saúde. Fora do horário deste centro, as pessoas devem procurar a UPA das Nações ou o PA da Barra.
NÚMEROS DA DENGUE
Confirmados: 74 mil
Mortes: 121
Confirmados: 6831
Mortes: 23
Confirmados: 1982
Mortes: 3
Confirmados: 2966
Mortes: 2
Hospitais estão lotados
Os casos de dengue e doenças respiratórias, como a gripe, têm elevado as hospitalizações no estado e sobrecarregado as UTIs. Quase todas as regiões tinham a taxa de ocupação dos leitos públicos de UTI acima dos 90% até o dia 24 de abril. Na região de Itajaí, a lotação era máxima nos hospitais Marieta Konder Bornhausen e Pequeno Anjo, em Itajaí, e no Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú.
No hospital Marieta, a direção informou 24 pacientes internados por conta da dengue até o dia 24 de abril. Apenas um paciente era de caso confirmado da doença e estava na UTI. Entre os casos suspeitos, 18 pessoas estavam na enfermaria e cinco eram tratadas na UTI.
No hospital da Unimed, em BC, a unidade soma mais de 73 mil atendimentos relativos à dengue neste ano. Até 24 de abril, foram 8144 casos positivos da doença, com 328 internações. O hospital seguia com 26 pacientes internados até o último boletim, no dia 24 de abril, sem internações na UTI.
Ações integradas na Amfri
A diretora do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Amfri (CIS-Amfri), Mônica Menezes, destaca que a entidade tem coordenado medidas contra a dengue na região. Ela ressalta, porém, que muitas ações são de responsabilidade do estado, como treinamentos, capacitações e abertura e realocação de leitos.
Por meio do consórcio da Amfri, ela informa que o grupo tem disponibilizado testes rápidos de dengue e covid-19, a contratação de empresas com mão de obra médica, enfermeiros e técnicos de enfermagem para funcionamento dos centros de atendimento e suporte na ampliação de horário das unidades de saúde.
Também são viabilizadas, por meio do consórcio, as contratações de laboratórios para testagem e confirmações de dengue e de serviços de telemedicina que reforçam o atendimento à população. “Nem todos os municípios utilizam, mas está disponível a todos os municípios (11) consorciados”, comenta a diretora.
Alta tende a estabilizar
O médico infectologista Pablo Sebastian Velho, secretário de Saúde de Navegantes e coordenador do Colegiado de Secretários de Saúde da Amfri, comenta que os casos de dengue estão tendendo à estabilização, mas ainda estão num nível muito alto na região.
“Estamos com a possibilidade de casos graves em virtude do próprio número total de casos, então a nossa preocupação é bastante grande para o cenário, pois quanto mais casos a gente tem, maior a chance de ter casos com gravidade”, avalia.
Além dessa preocupação, ele ressalta que os serviços de saúde da região já estão saturados.
O secretário lembra que 75% dos criadouros estão dentro dos domicílios, sendo responsabilidade de cada um eliminar locais que possam acumular água.
O cenário também é preocupante porque a infestação do mosquito chegou a regiões que antes não eram atingidas, elevando o risco para pessoas que nunca tiveram dengue serem afetadas pela doença.
"É o que nós temos observado de maneira bastante preocupante. Além disso, a infestação de regiões que antes não eram atingidas, como as menos urbanizadas, reforça a certeza de que não existem fronteiras para os casos de dengue, o que aumenta ainda mais o risco para pessoas que nunca tiveram contato com a doença", destaca Pablo.
Mesmo com a tendência de estabilização de casos nesse momento, a circulação de dois sorotipos diferentes de dengue no estado eleva o risco de que uma pessoa que já se infectou com o tipo 1 contraia o tipo 2, aumentando a chance de quadros graves.
“Nós sabemos que um dos fatores associados aos quadros de complicação de gravidade é justamente quando nós temos um novo quadro de infecção que pode trazer prejuízo para o paciente”, completa o secretário.