A moral é uma questão de tempo, do passar do tempo. Cada um informa o que é por sua trajetória, pela recorrência de comportamento, pela cópia do que faz e como faz pelos dias. A vida é feita de repetições e mudanças. É verdade que o mundo se transforma, se modifica, se surpreende, mas sempre dando voltas em torno do sol. Para toda alteração haverá a permanência de algo do sempre. Cada uma das mudanças dentro de si é tão lenta que aparenta não haver mudanças. A forma de se notar por dentro é a presença de uma estátua: se é como sempre foi! Mas, de fora, os outros sempre reparam, sempre comparam. É como se nossa vida fosse cultivada pelo zeloso e paciente trabalho dos cupins: por fora, tudo bem! A idade é algo natural! As coisas da idade é que não são! Mudamos para permanecer os mesmos!
Somos seres morais! A moral, um conjunto bem definido de regras de comportamento social, costumes, hábitos, usos, formas de pensar, agir, falar, ouvir e sentir, é uma questão de tempo. Vai se construindo durante o amanhecer e se fortalecendo a cada traço de dia, de tempo, pelos comportamentos. Pela condição moral e prerrogativas que se nos impõe, seus desvios são escondidos pelo próprio autor dos devaneios. Surgem as mentiras e as manipulações, os contorcionismos sociais, a produção de personalidades aceitáveis pelas corredeiras da vida. A moral exige isso. O valor moral impera sobre os comportamentos e sob a circulação sanguínea.
A moral, senso de avaliação dos comportamentos, é uma questão de tempo. E por estar agarrada à extensão do tempo e por ser valor de comportamento, nunca é esquecida. A moral, ao contrário da mente afrouxada a ficar em branco pela erosão inevitável da vida [e não necessariamente da idade], estará fora de cada pessoa vagando pelas ruas, bueiros, fumaças, músicas e barulhos, e, ao mesmo tempo, dentro de cada ser humano em suas entranhas. Para seguir os dutos morais cada um se leva a se proteger de sua própria avaliação: mente, manipula fatos. Aí que se percebe a moral, suas costuras valorativas, suas expectativas de atitudes.
Pela moral é impossível não ser do jeito que os outros acreditam que você é, cada qual orientado pelos valores de convivência coletiva e avaliação de comportamento daqueles que não sou eu. Não há escapatória: julgamos os outros como se não fôssemos, e seremos o resultado das avaliações dos outros. Você se autoavaliar como superorgânico é um problema a ser moralmente notificado: vaidade e prepotência são valores morais.
A cada ciclo do tempo, marcando as passagens por períodos, estágios, podemos avaliar moralmente a versão humana por seus resultados. Agregado o comportamento, a trajetória será descrita como a corte a apontar culpas e condenações. Ali surge a personalidade como um vulcão em erupção. Os processos de gestão pública são assim: o tempo moral atravessa os processos da vida, entra na carne como espada nas vísceras, rompe as artérias de aparência límpida.
Os desafios de quem começa uma gestão é entender como se terminou a anterior. E o poder, por não ser propriedade, por não ter dono, passa pelas pessoas e suas condutas morais. As mentiras aparecem, as manipulações se evaporam, e as pessoas posam para o pintor: são resultados morais. Não é só começar um novo tempo, mas remendar o tempo passado e terminar o tempo já passado que ainda não se foi!