Oleg estava em êxtase: conseguira vencer as eleições provinciais e agora era, de forma diferente, aclamado por todos. Ao sair de casa, um apartamento de classe média, mobílias leves, cortinas apenas para quebrar a luz externa e proteger sua integralidade pessoal, era cumprimentado por qualquer um que lhe cruzasse os passos. O que fazia ou deixava de fazer atraía a atenção dos jornalistas, comentaristas, colunistas, blogueiros como o imã atrai o ferro.
Oleg, por repente, fora consagrado a hierarquias santificadas ou possuído pelos odores do demônio. Sem distinguir! Talvez nunca conseguisse! Vivia em tempos nos quais sua vida seduzia, por severidade ou subordinação. Tomado pelo assédio de todos os dias, os jornais a lhe descrever a composição sanguínea, as pessoas a falar suas falas; contaminado pelos fascínios de conceder e negar, de interromper e decidir, não penetrava nas diferenças entre as feitiçarias dos negros que não ultrapassam o sacrifício dos galos e o esquartejamento de inocentes nas confissões medievais ao Santo Ofício. Para Oleg a História era a sua!
Oleg, sem poder se olhar e encontrar sua alma, como aquele a resolver os problemas com a facilidade de um principiante, sempre com a ajuda de sacerdote que entrasse em seu gabinete como um gênio libertado do cárcere para satisfazer os desejos de seu amo, sentia [e não pensava] o dia como a eternidade. Não haveria limites para si. Doía sua dor de humano ao chegar em casa, sob proteção das cortinas, e pudesse se desnudar das vestes imperiais, sentar-se ao sofá como quem desaba do décimo andar, suspirar em angústia libertadora e deixar o tempo lhe entregar o tempo de um copo d’água. Aquele era seu mundo pouco e, da porta para fora um mundo de empréstimo. Oleg, ao amanhecer e ao abrir as cortinas, via o sol a queimar o mar no horizonte. Preparava-se para mais um dia monárquico ao abrir seu braço direito numa reta horizontal elevada para que a manga lhe entrasse sem contratempos. Com impulso dos ombros para frente, a se ajeitar puxando o traje no entorno de seu corpo, estava pronto para a vaidade.
O poder amordaça a consciência, cala a modéstia, tortura a simplicidade. Ao passar da vida Oleg tinha a sensação de que havia matado um tigre, sem saber o que fazer com a pele. Descobrira que a satisfação da caça terminara com a esfoliação da presa e o espólio não carregava virtudes morais em si mesma. Oleg, embora ocupando o posto de decisão provincial, não era um rico, mas um pobre com dinheiro. Mas isso apareceu com as barbas brancas.
Oleg não estudou os sentidos do poder, não sabia que poder não é uma propriedade capaz de ser reivindicada em cartório, que não poderia ser tido por alguém. Poder não se tem, apenas se exerce! Poder só pode estar fora das pessoas e se localiza naquele espaço impossível de ser ocupado porque atravessa as almas. Poder não é medido em quilos ou altura. Por ser uma relação dependerá de ambientes, de personagens, de cultura, de história, de sistema de legitimidade. Os poderosos precisam se proteger dos efeitos do poder!
Ninguém pode exercer poder sozinho no mundo. Poder é necessariamente algo a ser enfrentado e foge do controle das mãos humanas: não se pega. Por ser relação, depende do conjunto de condições sociais, políticas e estruturais estabelecidas que se transformam na medida que a roda gira. Poder é perigoso como a tortura é delinquente!