É possível gerar um ambiente de motivação geral de compras pela sensação de o consumidor obter alguma vantagem financeira com descontos generalizados. Este é o caso da Black Friday, a qual cria um “período de vantagens” para o consumidor. Motivado pela instância psicológica de “obter um proveito”, e a divulgação em massa de que preços e produtos estão em sensação de serventia ao consumidor, logo as “necessidades” de compra se instalam nos comportamentos e os desejos se transformam em “pratos feitos” [PF].
Temos muitas distorções sobre o nosso próprio ego, sobre a imagem que queremos e gostaríamos que os outros tivessem de nós. Estamos sempre a nos proteger de nossas fraquezas e nos colocando como heróis, personalidades únicas carregadas de autonomia, independência e livre arbítrio. Não é fácil [e para alguns nem mesmo aceitável] reconhecer que somos influenciados por propagandas de ambientes “Black Friday” e de “descontos imperdíveis”.
Quase sempre acreditamos que somos os decisores de nossas próprias vidas. Quase sempre caímos na nossa própria armadilha de nos vermos e nos sentirmos com “imunidade social, psicológica e cognitiva”. Donos de nós mesmos! Esta sensação de superioridade [com cheiro de arrogância e sabor de prepotência] é caminho pavimentado para a intolerância, agressividade e violência. O deslocamento para dentro de si mesmo é, com o passar do tempo, como o enriquecimento de urânio para usinas nucleares: gera uma grande capacidade de produzir energia, potencializa algumas ações. O ambiente de produção é movido a riscos e perigos e sistemas de proteção e evacuação. Carregada de proteção em relação ao mundo que o rodeia, vira rejeito, lixo, armazenado em “latões” despejados em isolamento.
As dificuldades de ativação da democracia também residem nos líderes políticos de “urânio enriquecido”, capazes de promover as fontes psicológicas de fundo radioativo, com a destreza das ofensas e da incapacidade de se compreender no mundo. No limite, quando o autoritarismo, a agressividade e a violência se colocam além das possibilidades de convivência social com refeições democráticas, surge o Judiciário para regular a pessoa e proteger a vida social.
A democracia, um fenômeno coletivo, não faz a cremação do indivíduo, mas não permite que o autoritarismo possa ser a razão dos fenômenos coletivos. Os autoritários precisam mentir para si mesmos [porque só se acreditam] e se mostram superiores, protegidos de qualquer propaganda de consumo. Fazem as coisas porque estão numa escala superior de existência, nasceram prontos. Os seguidores, como seres sem cabeça, seguem tateando a vida, sendo urânio aos autoritários, e esquecem de se mover para a sua própria caminhada! Quando saem de casa, colocam primeiro os sapatos, depois as meias!