Skef se propôs a emagrecer. Considerava estar além das formas corporais desejáveis e isso lhe afetava seus arranjos psicossociais de relacionamento. Tentara regimes pouco compreendidos como processo e assumidos como “resultados infalíveis” para o emagrecimento necessário e socialmente desejado. Por um lapso, conseguiu perder massa corporal. Em pouco tempo, os efeitos tão festejados decifraram problemas de manutenção. Skef voltou a acumular massa corporal e se frustrou pela primeira derrota pessoal.
Não poderia desistir! Recorreu a grupo de amizade para saber como determinadas pessoas faziam para se manter com a imagem do corpo socialmente bem aceita. Regimes da Lua, Dietas de Horóscopo, Compromissos com o Sol, Tributos à exclusividade de alimentos únicos, Jejuns Penitencias Alimentares... Depois de extremos sacrifícios, nenhum dos regimes lhe foi eficaz. O sofrimento pessoal, segunda derrota, era o açoite frente ao espelho. Como flagelo se imaginava incapaz de alcançar qualquer resultado razoável perante tantos sacrifícios. Pensava que o problema era consigo, com seu organismo porque ouvira que o tipo sanguíneo era determinante de problemas de acúmulo de massa corporal.
Skef ficou acima do peso original, de quando iniciara seu esforço de emagrecimento. Agora tinha disposição para regimes mais severos. Passou a se alimentar com uma única refeição ao meio dia e a consumir água para preencher sua insaciedade permanente. Em seu trabalho, sempre muito bem feito, teve mal estar, tonturas, desequilíbrios, perda das forças, impropriedades de pensamentos descontínuos, confusões mentais. Quando se deu conta de sua própria vida, havia em seu braço uma veia artificial que inundava seu corpo com soro e suprimentos para provocar reparação física. As condições mentais viriam a seguir.
Skef, em prisão hospitalar, paciente, sem controle sobre seu próprio corpo [e nunca o tivera] passou por regime psicológico. Com ajuda de especialistas, médicos que passaram parte importante de suas vidas a tentar entender as formas segundo as quais as pessoas agem e reagem às suas condições de vida social e interior, se via e se ouvira.
O regime que necessitara, entendia agora, não poderia vir de fora, de medicamentos, de atitudes baseadas em escassa nutrição ou volume. Skef precisava entender como funcionava para si e para os outros. O regime a que passou a recorrer foi de mudança de comportamento. O esforço em se fazer a pergunta orientadora com tantos desafios imaturos foi a de procurar dentro de si como as coisas existiam. Encontrou ali uma forma de se acreditar, de se aceitar, de se amar, de se emagrecer, de se apaixonar.
Livre das dificuldades que pareciam que se lhes fossem exteriores, foi por ver em muitos espelhos diferentes sua própria face que conseguiu atingir suas metas. Mudou seus comportamentos e reconsiderou sua própria vida. Skef, livre de seus fantasmas, sem correntes que se lhe impôs, entendeu como poderia ser a democracia. Para haver democracia é preciso se entender e compreender o mundo em seu entorno. Em primeiro lugar, democracia é compreensão de si no mundo!