O Raciocínio é uma forma de entender o que acontece ao nosso redor, lastreado pela reflexão das coisas sobre nós e pela compreensão de um mundo no qual somos apenas uma pequena fagulha quase incapaz de causar incêndios. Somos muito menos, quase-nada de Nero. Mas quando a forma de viver é colocar a acusação, a responsabilidade e a culpa em terceiros, sempre se dispondo a ser juiz do mundo, salvando-se da punição por ser, autoproclamado, acusador, aí a “delinquência psicológica” aparece como fraqueza e patologia.
Bem mais fácil apontar para os outros para salvar a própria pele e a própria imagem que deseja se colocar para “o juízo final” de terceiros. Quem se imagina sempre certo, por certo, estará errado! Parece que o mundo errado [o dos outros] está cheio de “infiltrados”. Os “puros” sentem seu “alojamento” e sua autopercepção de brilho e caráter elevado ameaçados, e isso vale a guerra. O confronto e o conflito formam a contraguerra diante da possibilidade de se autodescobrirem. A torcida vibra e a psicologia tem câimbras e a estupidez chove como chuva.
Estamos perdendo a capacidade de entender as coisas, de refletir sobre os fatos, de compreender os fenômenos! Em troca tentamos ser juízes de mãos que carregam veneno doloroso. A patologia está sempre em extremismos, em amar e odiar circunstâncias muito semelhantes em momentos de desejos e revoltas. Estamos formados e deformados em uma sociedade de idiotas [aquele que acredita que conhece tudo, até mesmo o desconhecido]. Estes são capazes de perguntar a motivação e a intenção de qualquer pessoa e de responder imediatamente. São donos do destino dos outros. São deuses fraudulentos de si mesmos.
Nos últimos 50 anos nunca estivemos tão frontalmente contaminados pelos que acreditam poder responder a qualquer pergunta de forma definitiva. Os donos do mundo são tolos ou mentalmente degenerados. São cansativos e pouco suportáveis. A alegoria da guerra, do conflito e do confronto é o compasso da respiração matinal. “Danem-se os fatos! Eu preciso ter razão em ser perfeito”. Tal “pureza” de vida lhe autoconcede a tuba da acusação dissonante e fora do compasso. Como ato de “modéstia”, após todas as pontas de dedos endereçadas, poderão se dizer, sem acreditar, que nada sabem, e que tudo é somente uma opinião.
O fato é que sua existência não pode garantir a liberdade de ter uma opinião para dizer aos outros. Sozinho, em seu quarto escuro e pensando em se defender acusando, a opinião é mais um disfarce, uma manipulação contínua de sua própria vida. Opinião precisa ter argumentos e lambidas de impessoalidade, um registro fora do organismo e do pensamento falante.
A liberdade de opinião não pode ser uma condição para se falar ou acusar qualquer pessoa. Ter opinião exige, do opinador, a responsabilidade sobre o que está falando. A opinião como se fosse um atributo de liberdade incondicional de se poder dizer qualquer coisa, só servirá para aqueles que não podem viver em sociedade. A liberdade e a democracia não toleram a intolerância. É preciso ter alma leve para se amar alguém e para se ter opinião! Tolerar já é um exercício de compaixão! Os idiotas precisam se proteger de si mesmos!