A ‘criação’ do Herói Nacional que combatera o crime organizado da corrupção política, se evapora na fantasia do poder ministerial. Vive na escuridão por apagar os circuitos de luminosidade mental.
Em caminho tortuoso, faz acusações e refaz a amizade profunda com o acusado de traição como se tudo ocorresse às escuras da percepção dos outros. Os outros que lhe conferiram o título de herói. Talvez, tal trajetória veloz, ainda que secundária, seja reveladora do circuito político nada republicano e absolutamente não-democrático.
O quadro afetivo do paciente se torna mais revelador quando o objeto de adoração perde seu espaço nos altares das ‘divindades’. O período de luto tende a ser a negação do fato, e a separação entre adorador e ‘mito’ pode gerar recusas violentas, choros compulsivos, dificuldade de aceitar a ausência da vida falada do ‘mito angular’. Vive em dualidade.
Viver em dualidade é empobrecedor. A dualidade é, ao mesmo tempo, a necessidade de negação do opositor e o vigor da ‘bondade singular’ e da ‘verdade inquestionável’ do acusador. O inimigo é o sujeito que estrutura e organiza a vida, os sentimentos, o agir. Pobre alma ofuscada para si, a cegueira da visão.
A oposição gera a fragmentação da personalidade e evita a reflexão e a objetividade do pensamento [algo que se faz fora do pensador]. A dicotomia é importante para classificar o mundo e viver de acordo com limites: tudo-nada, nunca-sempre, amor-ódio, passado-futuro... Um passo adiante, nasce a trindade. Há sempre mais do que o todo-bem e o todo-mal podem nos dar.
Com o fim do ‘mito’ e seu lugar nos sentimentos diretos, o luto causa repulsa sobre a realidade e a necessidade de rejeição dos vitoriosos. O impulso violento é a declaração dos problemas traumáticos do paciente que tenta ficar ereto para continuar o enfrentamento; evita o divã. As condições da vida mudaram, e tentar paralisar o tempo é a expressão de ‘doses de loucura’: sendo borboleta, ainda se arrasta como lagarta!
A violência é um poço de impotência. É como ser demitido e se sentir injustiçado. Perde-se ali mais do que salário: pelas mãos escorrem as relações que mantinham o vigor da vida social. Convites para festas, happy hour de autorrecompensa, amizades que o ambiente de trabalho conduz dia após dia, as confissões de intimidade e tantos encontros com a vida, as experiências com outras formas de viver o mundo, a segurança ontológica gerada pela organização das tarefas, dos tempos, das metas... tudo se esvai.
A ‘morte’ e a ‘demissão’ são potências de criação e de recriação. Abrem-se oportunidades ‘forçadas’, o passo de libertação para se superar. Não há falta de memória, mas o impulso a repudiar as lembranças, fonte de cultivo do esquecimento. As dificuldades, as críticas, o ‘caos’ estão ali porque querem ser enfrentados.
Desejam a superação. Deixá-los reinar nossa vida, nosso império interior, é se confessar com disartria [distúrbio da fala] e com colapso dos movimentos: sendo borboleta, ainda se arrasta como lagarta! O divã para voar!