De resto tudo é mutante. A História é um “conto” sobre as regularidades do comportamento. As formas e as orientações sobre o agir e o re-agir, sentir e res-sentir, e o pensar demonstram o que, no limite de nossa racionalidade e nos percursos dos modelos de conhecimento, o que somos.
Somos cruéis enquanto espécie. Somos preconceituosos como seres sociais. Somos paradoxos existenciais. Vejamos: como defender, salivando as palavras com energia, a liberdade de opinião e, ao passo seguinte, realizar uma lista de empresas para boicote por tendências políticas e sociais de seus gestores? Como podemos desejar águas limpas para nosso prazer, lazer e consumo humano enquanto desperdiçamos oportunidades vertentes ao equilíbrio ecossistêmico? De que maneira explicar o repúdio às guerras e conflitos mortais entre humanos quando somos intolerantes com quem se dispõe a se opor ao nosso “centro de verdades gravitacionais”?
Somos doces e amáveis quando há uma celebração de unidade, de redução de nós mesmos enquanto seres “domesticáveis”. Os ritos religiosos, as diplomações de passagens aristocráticas que nos empurram para outros “planetas sociais” nos quais teremos que viver e “progredir”, nos impulsionam a conquistas. Aos empurrões, forçados por mãos nas costas que provocam a caminhada, seguimos roteiros e caminhos.
Quando as instituições se fragilizam, o poder se assenta nos braços e nos gritos, nos olhos efusivos e no rigor das tensões musculares da face. Quando estamos fora do controle social das estruturas sociais, tendemos a desejar no todo, aos outros, o cumprimento de nossos desejos. Deixamos de estender a mão ao cumprimento para presumir aos outros nosso preconceito e ódio contido. Podemos acumular um “mundo fantástico” que foi criado por mim [indivíduo] e para mim [Rei Supremo], e realizar as mais surreais combinações fantásticas das angústias, do egoísmo, da raiva e dos descompassos psíquicos para poder viver ao lado de semelhante em espécie.
As disputas, todas elas, são parte de nossos “jogos sociais” da vida em grupo. As disputas eleitorais, sem as amarras institucionais para limitar os concorrentes são como que humanos se transformando em hominis-vírus para dominar seu hospedeiro. Como vírus, por falta de dotação psíquica para vida em sociedade, a sobrevivência se vai na tentativa permanente de sugar do hospedeiro o fluxo da vida. Na morte do hospedeiro, o hominis-vírus é causa ocasional do velório.
As disputas eleitorais nos revelam, em espelhos serenos, nossas próprias “deformações” sociais, a dilatação dos preconceitos, a “bruxaria” da intolerância. Os “fantasmas” nos quais acreditamos, são os pavores que sustentam nossa vida, e a agressividade que promovemos são os “desencantos” de nossos genes em estado instintivo. Somos assim, e existimos assim. Para nos superar precisamos entender quem somos, como somos, e nossos res-sentimentos!