Colunas


A política de “Ícaro”


A política de “Ícaro”

Parece uma afirmação que se contradiz ao sistema de pressupostos a se impor como incontestável ao pensamento: contradição, paradoxo, contrassenso. A participação efusiva e intensa no processo eleitoral é, ao fim e ao cabo, distanciamento da participação política. Revanchismo, vingança, agressividade, violência e passionalidade nos afastam do que poderia vir a ser a política como fundamento de negociação entre contrários ou divergentes.

As eleições, como um pequeno e importante processo da trajetória política, são a forma mais evidente do comportamento político e do sistema de valores sociais que nos movem a cada dia. O sistema de organização dos partidos políticos e das formas de representação dos interesses coletivos afastam o representante do representado. Não submetem os primeiros [os eleitos] às vontades dos eleitores.

O financiamento [a fundo perdido] do processo eleitoral mostrou a cada um dos eleitores a forma “crupiê” [aquele que dirige o jogo de cartas, colhe e paga as apostas] segundo a qual se contratou e se pagou “apoiadores-prestadores-de-serviços”. Os eleitores estão tão distantes deste processo “cassino-eleitoral” que não nutrem nenhum sentimento de dor ou angústia com aqueles que poderiam vir a ser seus representantes. Neste jogo cheio de trapaças, nem mesmo por vergonha se padece.

Os eleitos, de modo geral, se flagram como os legítimos de representação pelo efeito dos resultados eleitorais. Pela vaga “conquistada” elevada ao desempenho pessoal, agora somam suas ideias como se fossem as ideias de todos na medida em que foram alçados a cargos públicos. A relação eleitoral se fixa, estritamente, ao tempo das eleições e não se prolonga para a representação de interesses. Depois de eleito, as performances e ideias pessoais são consideradas simplesmente como legítimas. Afinal de contas “o povo me elegeu e eu posso decidir o que quiser”.

O parlamento, após formado, toma sua grandeza pela distância da população, escondidos em côncavos e convexos de superioridade, e podendo explorar dos representados “orçamentos secretos”, “fundos partidários”, “fundos eleitorais”, “emendas parlamentares”, “privilégios monetários” [auxílio paletó, de viagens, de estadas, de moradia, de serviços médicos, de motoristas e serviçais, de aposentadoria, de educação...].

Mantemo-nos vivos porque acreditamos que amanhã estaremos lá, a viver como se fosse a mesma respiração essencial de agora. É porque há amanhã que nos eternizamos em nós mesmos. Quando a eleição se torna a defesa de um candidato pela acusação de seu adversário-concorrente, então não haverá ambiente nem espaços para planos de desenvolvimento, política educacional, projetos culturais, planejamentos ambientais... Mas, sem planos para o amanhã, a política só poderá viver da angústia furtiva dos instintos mais primitivos relacionados à vingança, ao confronto sem caráter, às mentiras que possam desmoralizar alguém.

A política atual tem em sua matriz a derrota do adversário e não a escolha de um plano de convergências coletivas. Não é a vitória que projeta o futuro, mas a derrota que aniquila o adversário que está a nos interessar. O voto de hoje inspira revolta e vingança, e mentiras surreais. Como se alguém estivesse a cair de um precipício e se imaginasse a voar: não há amanhã na ilusão da “Política de Ícaro”.


Conteúdo Patrocinado


Comentários:

Deixe um comentário:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

ENQUETE

Você topa encarar a subida da Super Gyro Tower pra ver Balneário Camboriú por outro ângulo?



Hoje nas bancas

Confira a capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯


Especiais

Vítimas esperam indenizações enquanto sócios vivem em imóvel de R$5 milhões

Caso Backer

Vítimas esperam indenizações enquanto sócios vivem em imóvel de R$5 milhões

EUA gastaram milhões para cooptar PF há 20 anos; processo não foi julgado

POLÍCIA FEDERAL

EUA gastaram milhões para cooptar PF há 20 anos; processo não foi julgado

Após avanço no STF sobre reajuste, idosos podem ter derrota para planos de saúde na Câmara

SAÚDE

Após avanço no STF sobre reajuste, idosos podem ter derrota para planos de saúde na Câmara

Vítimas de nudes com IA sofrem em limbo digital enquanto sites lucram: “Me senti abusada”

PERIGO DA IA

Vítimas de nudes com IA sofrem em limbo digital enquanto sites lucram: “Me senti abusada”

Cidades mineiras se preparam para exploração de enorme jazida de terras raras

EXPLORAÇÃO

Cidades mineiras se preparam para exploração de enorme jazida de terras raras



Colunistas

Chiodini vê como natural o MDB como vice de Jorginho

Coluna Acontece SC

Chiodini vê como natural o MDB como vice de Jorginho

Na mira americana

Coluna Esplanada

Na mira americana

Show de Zezé de Camargo em Porto Belo

Charge do Dia

Show de Zezé de Camargo em Porto Belo

O segredo por trás das aposentadorias antecipadas da lei 142/2013: a perícia que muda tudo

Direito na mão

O segredo por trás das aposentadorias antecipadas da lei 142/2013: a perícia que muda tudo

Vitória sofrida

Show de Bola

Vitória sofrida




Blogs

Conexão Suécia

Blog do JC

Conexão Suécia

Super Gyro

Blog da Jackie

Super Gyro

🌸 Outubro Rosa: o papel da vitamina D na luta contra o câncer de mama

Espaço Saúde

🌸 Outubro Rosa: o papel da vitamina D na luta contra o câncer de mama

Lixo nas calçadas é problema de todos

Blog do Magru

Lixo nas calçadas é problema de todos






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.