Alguns aprendizados podem ser alinhados, desde já, para as próximas eleições municipais. Ainda haverá o efeito do confronto medíocre, acusatório e pouco politizado. Reputações serão colocadas como determinação de caráter do mal, criado com luzes escuras do ânimo e ritos da maldição. E nada de Programa de Governo, feitos públicos ou determinação republicana.
O fundamento da política eleitoral se frustrou a dar ao eleitor [no Brasil, nunca cidadão] o apelo pelo pessoal, pela conduta, pelo café com pastel no balcão da lanchonete para sugerir ares de simplicidade e proximidade, e nada de Programa de Governo e Compromissos de Ação. A imagem do candidato ainda será postada acima dos interesses coletivos. Não haverá, é certo, o desenho da cidade atual e o ensaio sobre o desenvolvimento que ali em frente se fará necessário. Só há bocas e línguas a se declararem como “a opção”. Não há ouvidos! Não será possível auscultar atentamente os ruídos produzidos pelo organismo Cidadania [relação de um com todos] e da Democracia [relação de todos com todos]. Em terras de políticas áridas, a luta é contra o outro qualquer que não seja eu e minha preferência. Vote em mim, por mim, e não por você e os outros.
Como eleitores ainda discutiremos gostos e preferências pessoais, e esqueceremos o que é coletivo de uma cidade e pessoas [no Brasil, nunca cidadãos] que ali moram. As necessidades públicas serão apostiladas em cadernos que se combinarão à poeira, à umidade e ao desgaste do envelhecimento às coisas oferecido pelo tempo. O centro gravitacional da política ainda estará na fotografia do candidato e não no mapa e nos dados estatísticos das cidades.
A “diversão” eleitoral, atualmente, é o enfrentamento maniqueísta de guerra, de suspeitas de golpes, de chamadas à intervenção militar pelas armas e pela força, e do apelo a acusações de ideologias mal conformadas em civilizações da internet cuja participação se faz pelo teclado. Se ao menos fôssemos liberais, já seria um avanço! A “diversão” eleitoral é a “espiritualidade divina” a se derramar sobre o “homem do bem”, que usa da mulher para driblar a sua misoginia e seu machismo escancarado em gestos, piadas de péssimo gosto, agressões a jornalistas e repórteres. E nada de Programa de Governo ou determinação democrática.
À mulher-esposa foi transferida a tarefa de representação que “todas” as mulheres ali, naquele papel, podem se sentir protegidas, respeitadas, e que serão protagonistas da vida pública, carregadas de autonomia e liderança. Mas se uma mulher jornalista aparecer na esquina e fizer perguntas sobre posturas não-republicanas, então a briga do “casal” sofrerá agressões e infortúnios na linha reta do “só se for na casa da tua mãe”.
Para o bem e para o mal, o Gênero foi fixado na moldura política como nunca antes fora feito na vida pública nacional. Para a mulher, diante do machismo e das restrições históricas à sua cidadania, haverá a necessária e já tardia imposição de moralidade republicana e respeito político. E não por ser mulher, mas por ter direitos que lhe foram sacrificados em nome da “prevalência” masculina na história. Esquecida no tempo, a conversa sobre gênero, hoje, foi alçada como interesse público, não como mulher-esposa com papel de figurante em comícios, mas como cidadã frente a qualquer outro cidadão. A Cidadania não tem sexo, nem gênero!