O Poder é formado por tramas de um tecido que muda de cor ao passar dos tempos. Embora cada ser humano venha a sair da linha do tempo, ainda que possa estar muito mais vivo em lugares distantes, o Poder é uma rede que não pode pertencer a ninguém. As pessoas nascem e se vão, e o Poder permanece imaculado. Sir Poolcket sentia que algo escorria pelas suas mãos. Sentia esses pensamentos lhe atormentar a vida enquanto recolhia o lixo espalhado. O Poder se evaporava com o tempo que afligia seu futuro.
A manhã se foi, a tarde se apressou, e Sir Poolcket estava ansioso e com incertezas a rondar sua respiração e seus músculos da face. Seria a primeira vez que participaria de uma festa e que ficaria à solta no ar, sem controle sobre as atitudes dos outros convidados, sem bajulação, sem o apoio dos adoradores. Os outros da festa estavam no controle. Seriam “grandes personagens” e ficariam seguros porque estavam em seu próprio território, em sua “casa”, e ali tinham o comando.
Sir Poolcket percebia que os “amigos” que até então estavam ao seu lado adoravam o Poder e, por muitas vezes, o suportavam. Enquanto Sir Poolcket estivesse ali a distribuir benefícios, a definir a viagem do dinheiro e a decidir a junção de pessoas-cargos, haveria servilidade, adulação, sabujo. O Poder é um mundo de torpor e alucinação. Seu usuário volta à realidade do dia e fica “limpo” quando o Poder se vai para outras mãos. Sir Poolcket começava a sentir suas fraquezas.
A festa começou e todos estavam animados, felizes e comemorativos. Sir Poolcket chegou e foi levado ao lugar que lhe estava reservado: ao centro e isolado. Sentia-se como uma vespa no formigueiro: um mundo sem amigos para conversar, para refazer sua autoridade a cada minuto, para perguntar para si e responder aos demais. Os que chegaram para cumprimentá-lo, o fizeram sem entusiasmo.
Os amigos de Sir Poolcket eram parte do entorpecimento do Poder. Ainda não havia, em sua vida, experimentado o fato de que seus “amigos” adoravam mais o poder do que a pessoa que o exercia. A solidão da ausência do poder marcava o destino de Sir Poolcket.
A “festa” começara! Todos sorridentes e a trocar olhares como espiões que estavam prestes a encontrar o momento crucial de uma ação secreta: colar o chiclete mascado num vidro para causar a “explosão”. Sir Poolcket começou a expressar seus desconfortos em caretas, abaixar a cabeça por longos momentos e por agitar as pernas de modo descontrolado. Sir Poolcket começou a sentir raiva, e sua ira lembrava aos seus “opositores” seus próprios medos de infância.
Sir Poolcket conseguiu retornar à sua casa com desolação, sentindo o infortúnio do Poder e de como havia gerado confusões e problemas. Sua revolta e tristeza pessoais eram o retrato em cores de seus erros por ser o mais admirador, adorador, por se sentir o mais forte Adonis [herói grego famoso por sua rara beleza] em relação ao Poder. O Poder desvanecia, e Sir Poolcket ressentia-se que nunca estivera preparado para estar ali. Os amigos começaram a fugir de modo desorganizado.
Sir Poolcket era vítima de si mesmo: de sua arrogância, de seu egoísmo, de sua estupidez, de seus medos de infância. Os “amigos” de outrora, por ora, serão “amigos” de outros, em auroras passadas, adversários. Sir Poolcket voltou a colocar o lixo em frente à sua casa! Reencontrou os cachorros, um preto por completo e outro cinza.