Quando as situações eram adversas diante de si, os fantasmas de sua escuridão reapareciam e os medos lhe faziam agressivo. A ironia agressiva era usada quando Sir Poolcket como defesa, uma arma para enfrentar os outros e não a si mesmo. Ao seu redor todos eram vistos como subordinados e, por isso, submissos. Caso alguém lhe colocasse algo desafiador – uma pergunta, um gesto, um olhar –, a agressividade entoava com saliva a saltar pela boca. Sua proteção de si contra o mundo era a violência.
O mundo de Sir Poolcket era o que ele podia sentir e ver imediatamente, sem poder entendê-lo. Não lia livros. O mundo era traduzido pelos olhos, e não pelo intelecto. E, neste mundo pessoal, não podia entender nem a si, nem aos outros. Sir Poolcket se sentia o centro das coisas; satélites humanos e físicos orbitavam seu ego violento e medroso. Sir Poolcket vivia escondido e encolhido em seus próprios temores, dramas e terrorismo pessoal. Era ignorante para agir na política porque não compreendia a si mesmo, mas adorava o poder.
Sir Poolcket deixou o saco de lixo entreaberto e os “rejeitos” despertaram interesses de cachorros que vagavam pelas ruas em busca de alimentos. Quando olhou pela janela viu dois vira-latas espalhar os resíduos. Para os cachorros era necessário separar o que servia para comer e o que era rejeitado. Sir Poolcket correu, em desespero, e tropeçou em si mesmo. Caiu, levantou atônito e voltou a esbravejar.
Os cachorros, um preto por completo e outro cinza, em defesa de seu “almoço”, o enfrentaram. Sir Poolcket ficou assustado e se armou com um pedaço de pau. Os felinos recuaram e sumiram. Nunca mais os viu. D. Sofia passara naquele momento. A senhora lhe disse para tomar mais cuidado, ao que Sir Poolcket reagiu com a arrogância dos despreparados, uivando que ela cuidasse de sua própria vida.
D. Sofia, com paciência e maturidade, lhe falara, com docilidade, que o lixo deveria estar seguro contra ataques e que os humanos deveriam se perguntar pelos seus erros e desatinos. Sir Poolcket teve um surto psicótico. Esbravejou acusações genéricas, desqualificou as origens de D. Sofia, tentou lhe arranhar a reputação, lançou preconceitos sobre sua dificuldade de andar.
Sir Poolcket não conseguia imaginar que a coleta de lixo era resultado de seu comportamento na vida. Nunca lhe havia ocorrido, porque não tinha a reflexão para entender, que o lixo colocado para fora de sua casa, mesmo na escuridão e sozinho, seria, para sempre, seu efeito. Para Sir Poolcket o dinheiro pago pela coleta do lixo era a compra de sua responsabilidade sobre o lixo que ele produzia; o lixo, depois de entregue, não era mais seu.
Sir Poolcket tinha medo, muito medo. Porque não amadurecera, reagia com a agressividade instintiva, primitiva, tal como bichos acuados. Sua ferocidade era sua própria fraqueza, seus gritos o espanto de seu próprio desespero. Sir Poolcket era ignorante! O lixo que colocava em frente de sua casa sempre lhe voltaria! Sir Poolcket, tornava-se agressivo sempre que sentia medo. Faltava-lhe coragem para se enfrentar na frente do espelho. Dos outros era juiz!