Nem faz tanto tempo assim! Ali atrás, em 2015! A marca do tempo foi o processo de impedimento da então Presidente Dilma Rousseff. Surgiram movimentos contra a política tradicional e contra os políticos de sempre, que sempre fizeram as mesmas costuras e bordavam as mesmas vantagens. “Contra tudo e contra todos”, na contraluz dos palcos, aparecem a arte dos políticos outsiders, aqueles personagens “estranhos” à política. A Festa da Tradição parecia acabar!
Sem as poderosas gravatas e com roupagem do mundo empresarial, apontavam para a experiência no mercado e as virtudes do sistema privado para apontar caminhos diferentes no traquejo político. Explosões populares refaziam a eterna ressurreição de esperanças contra a continuidade da política sempre.
Não tardou para que os gritos nas ruas, as faixas de declaração de heróis e heroísmos, a “limpeza” da política com prisões de corruptos, tudo se esfacelasse. De novo, a esperança de um outro Brasil ficaria no “vazio do vácuo”. Tudo virou briga de moleques assistida por adolescentes, atualizada nas ameaças genéricas e na briga de final de aula [“te pego na rua”].
Por agora o processo de definição de pré-candidatos ou as nossas Primárias de Cúpula Partidária causam o revés aos “estranhos” à política tradicional. Formação de candidatos pela reinvenção da roda com os nomes mais tradicionais e arranhados na política e no convívio político: para a atenção da plateia todo o ódio se revigora em amor. Os outsiders, depois de muitas trapalhadas, tropeços e falta de experiência no processo de soluções políticas, perderam os rumos e os fluxos, e ficaram no caminho às pretensões de mudanças. A corrupção ganhou novos rostos, o sistema político se mantém firme e forte [Centrão & Cia], e os novos candidatos à Presidência [Terceira Via, Centro Democrático] não conseguem abrir as janelas dos alojados no poder.
Parlamentares e governantes, outrora renovação, foram pegos em seus absurdos: mulheres da Ucrânia, defesa do nazismo, notícias intencionalmente falsas para abrilhantar a conversa como metamorfose de liberdade, a Gripezinha e o Jacaré, as urnas eletrônicas e desafio às decisões de Suprema Corte, o cartão corporativo e o frango de rua. Do outro lado da esquina, julgamentos evaporam pela mudança de endereços de processos e tudo recomeça do nada, a despeito dos acordos de leniência e a devolução de dinheiro de muitas notas.
A política continua em níveis da linha do fundo do poço: feita em casulos, com uso de religião e apetites insaciáveis pelos recursos públicos, deixa escapar penas por janelas indiscretas e documentos por buracos secretos. A política feita nos escombros da esperança, tantas vezes sitiada, apela ao desejo do sigilo e vedação do banheiro por 100 anos e se atormenta com zumbis que ressurgem dos esgotos do passado recente.
No enfrentamento do roto com o farrapo, as energias dos soldados que se estapeiam são deslocadas para a derrota e humilhação do adversário. Como numa guerra, o sentimento é de guerra: suspensa no ar qualquer moralidade e deslocada para as covas qualquer ética, o bombardeio de quarteirões de esperanças produz revoltas e revoltosos. Não há um país para o amanhã; há uma briga e um tapa para hoje!
Havia festa! Mas quando a personagem ‘Programas de Governo’ para o País e seu Futuro apareceu, as portas se fecharam, as janelas foram cerradas por cortinas pesadas. Dentro dos casulos os viventes bebiam vinhos caros, comiam camarões e riam diante de comediantes. Para não atender o ‘Programas de Governo’, de repente apagaram as luzes: fez-se silêncio!