Nas sociedades as estruturas sociais regem, orientam, disciplinam, distinguem as relações entre as pessoas e entre as instituições. Os parâmetros morais da religião, as cargas que a trajetória da história entrega todos os dias, os processos da educação, os regimes de trabalho e produção, dizem o que devemos fazer e o que devemos evitar. Não se vai com qualquer roupa aos ritos religiosos; ainda que as pessoas desconheçam, a história contrai, todos os dias, a forma de existir [somos seres da história e na história]; os materiais, os professores, a “casa de aprendizagem” estão lá e exigem comportamentos regulados por forças imensas que penetram em nosso espírito existencial; o horário de trabalho, o ponto, a tarefa, a capacidade de se relacionar com pessoas muito diferentes é uma prerrogativa de “clima organizacional” e produtividade.
Somos regulados: é fato e condição para vivermos em grupo. Trocamos parte de nossa liberdade original pela proteção das instituições sociais, sempre inevitáveis. Aceitamos, com docilidade que cada um tenha sobre si o mesmo mundo, a mesma organização, os mesmos parâmetros de relacionamento. O “certo social” para todos: seus aplausos e reconhecimentos; o “errado social” para todos: suas condutas de julgamento e punição. Na sociedade as pessoas têm desejos, pensam sobre o futuro, buscam o poder e o prestígio, desejam a morte de semelhantes. Há improvisos, súbitos, impulsos, imprudências.
Em princípio, as formas de regulação social são dadas pela política [tanto como Política de Estado quanto Política Social]. Política é a prima [primeira das horas canônicas] a regular a vida das pessoas e a lhe servir. Por isso um prefeito é o primeiro servidor público e não um astro das redes sociais; é o primeiro servo e não o primeiro comandante. O político deveria [é, deveria] servir aos interesses coletivos, não aos seus próprios.
Eis que em nossa História Política, o político se torna o capitão-mor, a lei, o mando, a veneração, o priore [primeiro entre dois], o prisma [cristal que decompõe a luz]. Na psicopatia da existência humana e das bólides [grande meteorito com ruído e luz quando penetra na atmosfera terrestre] da história, são os eleitores, reis originários das eleições, meros torcedores. Num repente da história, o chefe-eleitor passa a ser súdito, subalterno; e o eleito-servidor torna-se Rei donatário. Contamos nossa História Política da Era Moderna pelos atributos dos Impérios da Idade Média.
A Política do Repente é a produção do improviso proveitoso, do impulso pelo prazer pessoal, dos efeitos gozosos dos recursos públicos [composto como sem dono], dos interesses oportunistas, da ausência de Planos de Futuro. Não é à toa que os Partidos Políticos não têm Programa de País ou Programa de Governo; não é por acaso que a Fidelidade Partidária é concubina da Janela de Transferência. E como um súbito da história surge em Paranoá o Presidencialismo de Coalisão que não consegue nem ser um regime Presidencialista, nem um Estado Parlamentarista.
Habitamos numa casa cuja história da cultura política tem peso de isopor em ideologias e cidadania e de bigorna em personalismo e patrimonialismo. Não há porque adorar presidentes, pelo simples fato que devemos defender a cidadania.