Coluna Exitus na Política
Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br
A Fazenda e seu gado
Quando o sistema político se torna complexo e assume um certo nível de autonomia no conjunto das estruturas da sociedade, passa a exigir especializações na sua organização e divisão do trabalho interno. Tudo isso para que as decisões políticas que pertencem ao próprio sistema caminhem por si mesmas e atuem sobre os seus próprios representantes, como se todos os outros fossem imunes às consequências que ocorrem; para que adquira autonomia.
Os Partidos Políticos são parte desse sistema. Partidos Políticos surgem e se desenvolvem em vazões por participação no processo de formação das decisões políticas. Grupos, classes sociais, sindicatos, associações se organizam para participar e influenciar o caminho e desfecho de decisões. Tal necessidade de participação com o olho no futuro próximo sempre foi mais intenso e angustiante em momentos de transformação econômica e social que movem a ordem tradicional e as relações de poder. Golpes de Estado ocorrem aí, ou a efetivação da Democracia se fortalece. Diante dessas transformações e formações, no mesmo lugar uma sociedade não fica.
Quanto mais próxima está a política dos membros de uma sociedade, maior a influência destes em seus próprios destinos, inclusive dos Partidos Políticos. Quanto mais distante as pessoas estão dos processos de decisão política, maior a chance de que as definições sobre o futuro [ideais] e sobre os recursos públicos [públicos, insista-se] sejam mais seletivas, excludentes, demagógicas, privativas. Fazer da participação política uma atitude de voto em eleições é muito pouco para se considerar a democracia. Ainda, quanto mais idolatria por ídolos ou heróis, menor a participação sobre as decisões.
A escolha de candidatos pelos eleitores tem aparecido como uma “etiqueta eleitoral”, um ato de “festa coletiva” tão decisiva na política quanto o carnaval: depois de contados os votos entra-se numa eterna “quarta-feira de cinzas” cuja ressurreição se dará no uso da próxima data de acionamento das urnas eletrônicas. A política se transforma em permanente calvário.
Para a escolha de destinos de uma população é imperativo a preocupação [i] sobre Programas de Governo para uma sociedade, suas linguagens sobre economia pública e privada e as pessoas; [ii] sobre assistência e suporte aos clientes de estado [aqueles que pagam impostos quando compram um pão na padaria]; [iii] sobre a educação que prepara para o mercado de trabalho e que forma intelectuais; [iv] sobre como a política de saúde pode atuar sobre as pessoas sadias e doentes; [v] como decisões sobre segurança pública [para todos] podem proteger as pessoas; [vi] como a transparência sobre o uso dos recursos filia à ética ou desonra... Com Programas Políticos bem definidos e compreensíveis e duradouros os partidos sempre seriam anteriores aos seus líderes, aos seus representantes, aos eleitos.
Hoje lembramos mais de pessoas, líderes, salvadores, do que de partidos políticos. Os líderes, donos, proprietários dos partidos formam e são sua própria conduta e decisão. Boa parte dos partidos políticos, no Brasil, nem mesmo têm militantes. No Congresso viram bancadas de interesses; em eleições formam coligações estranhas; durante catástrofes, como não representam as necessidades e interesses da população, nem mesmo se solidarizam com os aflitos. E quando assumem o poder de definir caminhos e dinheiro públicos agem como se ali fosse uma fazenda de sua propriedade, cercada com cercas eletrificadas para manter seu rebanho protegido dos interessados nas riquezas que ali “brotam”. Partidos Políticos no Brasil não têm Programa, somente interesses fazendários!